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Os críticos da crítica dos críticos

por Alex Gomes, em 28.10.13

Bruno Carvalho, no blog 5dias.net, critica o Bloco de Esquerda para tentar deslegitimar recentes críticas feitas à direcção da CGTP e/ou do QSLT. E daí senti-me com legitimidade para criticar a crítica do Bruno Carvalho aos críticos.

 

A crítica ao recuo da direcção da CGTP na manifestação a pé pela ponte 25 de Abril não é extensível aos trabalhadores, nem mesmo aos comunistas. Nem todos os trabalhadores pertencem à CGTP, nem todos os comunistas pertencem ao PCP, logo, nem a CGTP nem o PCP representam todos os trabalhadores, aliás, nem sequer representam todos os comunistas. No entanto, existem trabalhadores e comunistas filiados à CGTP que criticaram o recuo da direcção.

 

A linguagem moderna e contestatária do BE não é nem nunca foi um defeito. Já o seu contrário, uma linguagem primitiva e cúmplice, seria grave. Mas isto é discutir pintelhos.

 

A alegada contradição por ter visto imagens do Che Guevara serem utilizadas num partido (BE) que não apoiava as experiências do socialismo-real, nem mesmo de Cuba: Tendo em conta que Che Guevara saiu de Cuba uns aninhos antes do BE ter sido criado, parece-me perfeitamente aceitável apoiar o processo revolucionário cubano dos tempos de Che sem apoiar de forma incondicional e acrítica o desenvolvimento do “socialismo” cubano.

 

Mas até mesmo Che Guevara não se coibiu de criticar a política externa dos países ditos socialistas. Na Conferência Afro-Asiática na Argélia em 1965, questionava: “Como pode ser "mutuamente benéfico" vender aos preços do mercado mundial as matérias-primas que causam aos países subdesenvolvidos suor e sofrimento imensurável, e comprar aos preços do mercado mundial as máquinas produzidas em grandes fábricas automatizadas de hoje?  Se estabelecermos esse tipo de relação entre dois grupos de nações, temos que concordar que os países socialistas são, de certo modo, cúmplices da exploração imperialista. Pode ser argumentado que a quantidade de trocas com os países subdesenvolvidos é uma parte insignificante do comércio externo dos países socialistas. Isso é bem verdade, mas não elimina o carácter imoral dessas trocas.”

 

No entanto  equívoco mais grave deste post é a afirmação que a luta patriótica é a arma para combater o imperialismo. É esta ideia que leva parte da esquerda a defender ditaduras como as de Assad ou de Ahmadinejad. Patrióticas, pois claro, anti-imperialistas sem dúvida. Mas socialistas, nadinha. Talvez por isso Che Guevara tenha alertado no mesmo discurso que “para nós, não há nenhuma definição válida de socialismo que não seja a abolição da exploração de um ser humano por outro. Enquanto isso não for alcançado, estamos  na fase de construção do socialismo e, se em vez de acabar com a exploração, a tarefa de a suprimir chega a um impasse – ou pior, inverte-se – então nem sequer podemos falar de construção do socialismo.”

 

Nem tudo o que é patrótico e/ou anti-imperialista é bom. Aliás, o imperialismo que se vive hoje em dia mudou muito desde os tempos em que Lenine escreveu sobre isso. Basta verificar que o risco de guerras imperialistas hoje ser praticamente nulo. A esquerda deve ter um cuidado redobrado com a narrativa patriótica de forma a não abrir caminho a nacionalismos. E isto passa, em grande parte, por não confundir patritiotismo com soberania popular ou com socialismo.

 

Outra coisa que a esquerda já deveria ter aprendido a lidar melhor é com a liberdade de opinião. Criticar as opções de uma qualquer direcção de uma qualquer organização nem sempre vem de quem vive da “intriga e do parasitismo” ou é uma questão de "quem está (ou não) disposto a lutar". A ofensa não é substituta da argumentação.

 

Talvez o Bruno pudesse aproveitar para explicar porque é que “há muitos pontos em comum nos dois programas autárquicos” da CDU e do PSD em Loures. Tenho a certeza que um esclarecimento com argumentos estará para breve. Ou talvez uma crítica insultuosa aos críticos do acordo.

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publicado às 18:11





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