Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
De 20 em 20 anos decreta-se que a análise da sociedade feita pelo barbudo alemão está obsoleta. Contra a corrente, há quem faça por que ela seja, 130 anos após a morte do dito, mais actual que nunca.
"Governo alivia carga fiscal para rendimentos mais altos", notícia de http://www.publico.pt/economia/noticia/governo-alivia-carga-fiscal-para-rendimentos-mais-altos-1609285
A vida corre bem para o Governo. Conseguiram vencer o braço de ferro com a CGTP e impedir aquela que seria uma manifestação histórica. Conseguiram dividir a Esquerda, os sindicalistas e os trabalhadores que agora estão concentrados ou em críticas ou em defesas da CGTP. E como se não chegasse, com o mediatismo da polémica da ponte ainda conseguiram abafar a visibilidade da próxima manifestação de dia 26 de Outubro.
Tudo corre bem nas estratégias de comunicação do Governo, as iras vão-se dispersando.
Mas independentemente de hoje, mais que nunca, ser preciso olhar para a frente, a CGTP não pode ficar isenta de críticas. Não alinho na crítica antissindical mais primária que vê na organização o principal bloqueio para o suposto espontaneísmo das massas. A luta faz-se com organização, nos sindicatos, nas associações, nos coletivos. Mas é indefensável que a CGTP se dê ao luxo de abdicar assim de tanta resistência, de tantos solidados e soldadas e de força hegemonia acumulada.
A força que a manifestação teria seria imensa. E tendo o Governo proibido a manifestação e a CGTP escolhido como estratégia (e bem) levar o confronto até ao fim, não teria outra hipótese que não assumir o conflito e convocar uma concentração para o pé da ponte e colocar 100 mil pessoas com faixas, bandeiras e palavras de ordem em frente às barreiras policiais.
Seria um país contra um bloqueio. Um país contra o Governo. Um país contra a Troika.
A imagem de um país que se levanta contra a censura política da manifestação e contra o Governo e a Troika seria uma imagem de luta e força imensa, ao invés de uma manifestação sobre rodas, que se divide em opiniões e críticas. O Governo ganha a batalha, nós perdemos todos.
Dito isto a crítica não pode esvanecer a estratégia para os combates. Há manifestações por construir. Há um protesto no porto de alcântara, há concentração da CGTP e há uma manifestação dia 26 de Outubro promovida pelo Que se Lixe a Troika que ainda tem imensa capacidade de mobilização e que ainda tem relação de forças para se transformar num protesto de massas.
Teremos de nos encontrar por aí. É a nossa única opção. Estes tempos de podridão não nos exigem menos que isso.
A competição para o Partido que melhor lambe as botas ao regime ditatorial de Angola está cada vez mais competitiva em Portugal.
Depois de muitas presenças na Festa do Avante!, o PCP não se inibe de dar tiros no pé na melhor tradição internacionalista do partido, enviando «calorosas felicitações pelos expressivos resultados alcançados nas eleições realizadas a 31 de Agosto» (de 2012) ao seu parceiro MPLA.
Juntou-se ao PCP há uns dias, mas por outras razões, o Ministro-BPN Rui Machete, pedindo desculpa a Angola pelo correto funcionamento das instituições da Justiça portuguesa em relação à elite angolana.
O que hoje pode ter intrigado muita gente foi o anúncio de Eduardo dos Santos do fim da chamada parceria estratégica com Portugal, mesmo depois das "desculpas diplomáticas" que levariam, numa democracia representativa saudável, qualquer Ministro dos Negócios Estrangeiros ao chão. Em discurso na Assembleia Nacional de Angola, o Presidente do MPLA e pai da empresária que está a comprar meio Portugal invocou "incompreensões ao nível da cúpula e o clima político actual” para o fim desta parceria estratégica. Pode parecer incompreensível, até mesmo pura ingratidão para alguns, depois das contínuas tentativas do Governo PSD/CDS para agradar aos seus congéneres angolanos. Não nos enganemos: Eduardo dos Santos tem várias cartas, perdão, partidos na manga.
A grande notícia do dia é outra. Parece que no mesmo dia em que manda esta bombástica notícia ao Rui Machete e restante Governo, o MPLA recebe confortavelmente em Luanda uma delegação do PS liderada pelo nosso querido José Lello, personagem que dispensa apresentações. A classe dominante tem várias faces e correntes que se movem na alternância da gestão do capitalismo, talvez mais claramente na democracia representativa portuguesa do que no regime angolano.
Lello - esta espécie de Miguel Relvas do PS - e o director para as Relações Internacionais do PS, Paulo Pisco, estão certamente a preparar relações internacionais de primeira categoria para quando o PS e seus cândidos dirigentes fizerem o upgrade da austeridade para a versão 2.0. Conseguimos assim começar a visualizar que tipo de alternativa o PS quer ser, dando por seguro um segundo resgate e assegurando boas relações com um velho ditador que mantém o seu povo na fome para sustentar uma elite com muitos amigos "democratas" pelos lados de Portugal. É a velha máxima do "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és", num PS que já não tem vergonha da sua podridão interna.