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O Partido Socialista de Manuel Pizarro entendeu-se com Rui Moreira da aliança CDS-P/Rui Rio. Assinaram um acordo de governação da câmara que garante maioria absoluta ao novo executivo.
É um acordo perigoso. Mas enfim, para muitas pessoas assumir funções de vereação executiva em câmaras municipais governadas por outro partido, com outro programa e com uma visão diferente da política e da cidade não é considerado uma “coligação”. É uma espécie de “partilha democrática de responsabilidades”. Viabilizam todos os orçamentos, claro. Mas isso é uma questão de pormenor… Sem saber muito bem que programa vão cumprir, multiplicam-se acordos pós-eleitorais bem sinistros, veja-se o caso do PS de Basílio Horta, com o PSD e a CDU na governação de Sintra.
Incoerências à parte, o acordo do Porto é verdadeiramente sintomático. Augusto Santos Silva e Francisco Assis já o vieram defender a público. O que poderão estes dirigentes querer mais que um PS em acordos com a direita para a governação local? Mais do que isso, só se fosse um governo de salvação nacional com a direita, patrocinado por sua luminosa excelência o professor Cavaco Silva…
Mas é uma pena que o PS se renda a um facilitismo tão básico e alinhe em todos os acordos que os permitam estar no poder, mesmo que contra o seu programa e o que resta dos seus princípios. Não é todo o PS, nem são muito menos todos os eleitores do PS. Ainda há pessoas no PS e que votam PS que acham que um acordo de governação com a direita trai tudo o que resta de princípios de esquerda que o PS anda diz ter.
Mas afinal de contas, até quando essas pessoas vão continuar a ser cúmplices deste desastre?
Atravessamos tempos negros. Ao defendermos salários mais dignos, pensões dignas, serviços públicos, há quem faça parecer que estamos a pedir um mundo e o outro. Para nós, parecem-nos coisas elementares para uma sociedade minimamente aceitável. E é pena não sermos suficientes para tornar essas reivindicações realidade (é importante pensarmos como podemos alargar mais o combate a esta política. Mas com a cabeça fria para não cairmos em análises simplistas, para não irmos na análise errónea de “quanto pior, melhor” para a aceitação da oposição, da qual se deduz com grande probabilidade que com uma alteração ou duas da maneira de expor as coisas, e mudando eventualmente uma ou duas caras, se resolvia tudo. Era mais simples, não penso que seja assim a maneira como as coisas são).
Estas coisas básicas que defendemos não são exclusivas de “famílias” socialistas, comunistas ou sociais-democratas. Qualquer verdadeiro democrata cristão devia escandalizar-se quando o pagamento de dívida contraída junto de investidores (que sabem que é um instrumento de especulação) se sobrepõe ao pagamento de salários ou pensões. Todos os verdadeiros democratas cristãos que se queiram juntar ao combate deste governo serão bem-vindos. Talvez conhecendo mais de perto as nossas opiniões sobre assuntos como os direitos LGBT até se aproximem das nossas ideias. Talvez não; mas mesmo que assim seja não podemos abdicar do não-sectarismo como princípio inerente da nossa actuação. Porque mudar de mundo não é só fazer um mundo que vá mais de acordo ao que pensamos. Fazer com que outros com opiniões distintas possam usufruir também desse mundo deve fazer parte desta ideia de construção comum. Por muito que não gostemos de muitas das coisas que essas pessoas pensam.
Mas a ideia de que é necessário construir pontes com toda a gente que esteja dispostas a unir-se à defesa do “básico” não pode de todo colocar em causa que nós não queremos apenas o “básico”. Um exemplo: se por um lado faz sentido juntarmo-nos ao coro de críticos que defendem a subida dos salários por razões tanto sociais como económicas (salários mais altos estimulam a procura interna, criando um efeito positivo na economia; mesmo que nos modelos neo-liberais seja indiferente a quem está distribuído o dinheiro e as “distorções” sejam o que mina tudo. Observar a realidade costuma ser a melhor opção), queremos apenas os e as trabalhadoras a viver um bocadinho melhor?
Ou queremos que os e as trabalhadoras possam realmente decidir como querem organizar a produção e que recolham todos os frutos do seu trabalho? Que as pessoas possam ter a escolha real de trabalhar metade do tempo, ou ainda menos, do que trabalham hoje, para terem mais tempo para passear, namorar, fazer o que lhes apetecer?
Eu acho que queremos muito mais que salários mais altos e algumas garantias de estabilidade. E abdicar de sonhar é capitular.
Nestes tempos negros, penso sinceramente que podíamos pensar mais colectivamente como podemos tornar o sonho realidade. Discutindo as questões difíceis de como passaremos de uma sociedade baseada na posse privadas dos meios de produção para uma sociedade em que estes são geridos e usados colectivamente (pensando num exemplo muito básico e de não muito difícil resolução – a meu ver -, como resolvemos o problema de uma cooperativa ter acesso a um terreno muito fértil e outra ter um muito mau?).
A razão principal para pensarmos colectivamente estas questões não é a iminência de uma mudança brutal, é a necessidade de não esquecermos realmente o que queremos. Nestes tempos de miséria, não nos podemos deixar embrutecer.
(o título é enganador. Não me lembrei de outro melhor e ficou este)
Aquele que jurou cumprir e fazer cumprir a constituição da república declarou ontem que só pedirá a fiscalização do orçamento depois de avaliar os custos dos eventuais chumbos.
Alguém que fale ao homem do custo da aprovação do terceiro orçamento de estado insconstitucional consecutivo, do custo dos insconstitucionais novos e mais pesados cortes salariais dos funcionários públicos (depois do TC ter avisado que não toleraria que se continuasse a cortar "temporariamente" os salários da função pública), do custo do inconstitucional prolongamento da suspensão do pagamento de subsídios de férias, e do pagamento do de natal em duodédimos, do aumento do horário de trabalho, do corte nas pensões de viuvez.
Alguém que lhe explique o custo de manter em funções um governo podre, que antevê crescimento em orçamentos recessivos, que vê na tragédia social sinais de recuperação económica.
Alguém que lhe explique que é contra este orçamento, esta governação e esta austeridade catastrófica que sábado saímos e sábado saíremos à rua.
Percebo, respeito e partilho a frustração de muito povo de esquerda com o recuo da CGTP-IN na organização da manif de ontem na ponte 25 de Abril. A argumentação do governo - "questões de segurança" - foi cínica e falsa. A CGTP-IN demonstrou durante muito tempo a sua disponibilidade em manter o braço de ferro com o governo, criando, inclusive, a ideia que poderia mesmo desobedecer à recomendação/ordem/decisão do Ministério da Administração Interna. Recuou - mal na minha opinião - tarde - do ponto de vista táctico - se, de facto, nunca colocou a hipótese da "desobediência civil". A marcha dos autocarros não foi a melhor "fuga para à frente" de entre as várias possibilidades...
Dito isto, não percebo e discordo radicalmente da agressividade na crítica dirigida à CGTP-IN. Leio por aí que a manif de ontem soube a pouco. O meu testemunho de ontem é bem diferente, talvez por ter estado no Porto - a atravessar a ponte - na maior manif que tenho memória da CGTP na cidade. A luta social é ainda insuficiente tendo em conta a ofensiva do Governo e da Troika contra a classe trabalhadora? Concordo. Mas se há coisa que os últimos meses, em geral, e a manifestação de ontem, em particular, evidenciaram de forma clara e evidente é que a CGTP-IN é, sem dúvida, a entidade à qual menos responsabilidades devem ser assacadas por esse acantonamento da luta social.
Seria bom que isto fosse reconhecido e valorizado desde já, para que daqui a uma semana - e como eu gostava que assim não fosse... - não o tenhamos de assumir de forma tácita e envergonhada.
Como recentemente bem lembrou um camarada "na guerra, e é disso que hoje se trata, guardam-se as balas para o exército inimigo. Na refrega, cá trataremos das questões domésticas.".