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Do empreendedorismo desaproveitado

por pedro pereira neto, em 18.12.13

Tive a profunda infelicidade de cruzar-me, por intermédio de um contacto meu, com um post daquela fígura impar da nacional-legislatice chamada Duarte Marques. Não satisfeito de ter levado o bigode da década por parte da Ana Drago, vem hoje tentar encantar mais alguma da juventude social-democrata feminina, certamente ávida de herois e de futuros suspeitos de violência doméstica, afirmando a propósito de um dos manifestantes nos protestos de hoje, o Miguel Reis, que (e cito)

"Porque será que são sempre os mesmos? Cá está o Miguel Reis outra vez. Eu quando apareço digo que sou do PSD, estes tipos do Bloco de Esquerda ou do PCP escondem sempre a filiação. Cá está o Miguel, habitué destas coisas. Invasões, manifs e interrupção de conferências. Tudo teatro bem montado. Este na foto já é mais conhecido que a Catarina Martins do BE"

Comecei por tentar ser leve na resposta, até por me parecer que um discurso elaborado falharia claramente o objectivo de tornar-se útil a Duarte Marques. Desse modo, e ainda num tom construtivo e conciliatório, expliquei que muitas pessoas no próprio PSD preferiam que pessoas como Duarte Marques não se afirmassem do PSD, dado existirem limites para o que podemos considerar "boa publicidade" vinda da "má publicidade".

Contudo, firmemente convicto - como sempre nos tornamos quando nos habituamos à adulação da audiência típica das fábricas de condicionamento mental a que chamamos juventudes partidárias - da sua (vamos chamar-lhe assim) "razão", Duarte Marques entendeu responder a uma outra crítica à sua legitimidade para exercer o cargo de deputado que a todos nos custa o que custa, em que era questionado directamente sobre uma eventual prova de acesso que tenha feito para esse exercício. Respondeu o seguinte:

"não maior prova que aprovação em democracia, pela voz do povo que tantos fingem representar. Por outro lado, o que está aqui em questão não é a prova. Eu próprio considero que a solução poderia ser outra. A questão é o comportamento anti-democrático daqueles que impedem os outros de fazer a prova, daqueles que impedem de trabalhar quem não quer fazer greve. Isso não é respeitar a liberdade".

Muito bem. Ainda que eu tenha toda a consideraçao pelos défices cognitivos dos outros, e me mova a maior compaixão por todos aqueles a quem a constante adulação acrítica convenceu de talentos inexistentes, há duas notas que entendi fazer, e que dirigi directamente a Duarte Marques, como devemos fazer sempre que algo na conduta dos outros nos incomoda:

- não requer particular elaboração compreender que o fenomeno eleitoral em portugal, sobretudo em partidos catch-all como o PSD pretende ser, inclui dinamicas de protesto (o mesmo de que acusam cronicamente o BE) ao ser apresentado como "alternativa a Sócrates", e inclui dinamicas de voto por hábito. A qualquer uma destas duas práticas o conhecimento dos elementos constantes de uma lista, como é o caso de Duarte Marques, é nulo. Logo, a sua legimitidade enquanto "aprovação em democracia" é, basicamente, nula. A menos que estivessemos em processos eleitorais no formato dos circulos uninominais, é um argumento falho de verdade (e de inteligencia) dizer-se representante de pessoas que, objectivamente, não o conhecem e não fizeram por escolhe-lo directamente.

- se é anti-democrática a conduta que impede ou previne outrém de agir, calculo que tenha de afirmar-se pela liberdade da população portuguesa cuja vida diária passou a excluir diversas actividades por acção consciente e premeditada do governo. No mesmo plano está usar o resultado de uma prova imbecil (com questões absolutamente absurdas para a aferição da competencia pedagogica, como uma soma de merceeiro) para impedir o acesso à profissão das mesmas pessoas a quem a entrada nos quadros já é uma miragem por acção ou conivencia legislativa social-democrata. Questão de pura lógica.

Portanto, como o Duarte escreveu tentando ser tão eloquente como um slogan de produtos para a higiene intima, o que o governo faz "não é respeitar a liberdade". Fico, pois, a aguardar o seu grito de Ipiranga. Afirme-se, Duarte: afirme-se. Ou então seja empreendedor, siga a sugestão do seu lider, e aproveite a oportunidade da migração para nos beneficiar com a sua ausencia.

E pronto, era só isto.

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publicado às 17:05

Manifesto 3D e os desafios da unidade à esquerda

por João Mineiro, em 18.12.13

 

 

Sou da opinião que nestes tempos de barbárie, a esquerda que quer ser esquerda não deve ambicionar menos do que vencer. Juntar milhares de pessoas em torno de ideias, de um programa e de um movimento popular permanente que sustente uma mudança estrutural na relação de forças em Portugal e na Europa. E para isso a disponibilidade para discussões em torno do que une e do que agrega e em torno de uma unidade que sustente uma verdadeira alternativa política é indispensável.

 

Há neste aspecto uma proposta do Bloco e do PCP de construção das bases para um Governo de Esquerda que tire Portugal da tirania financeira. Há um PS que pelo que defende e tem aplicado não conta nesta equação. Há uma proposta vaga e populista do LIVRE para unir a esquerda sem um programa de esquerda. E há agora o Manifesto 3D.

 

Não acho que o Manifesto 3D se possa resumir aos seus proponentes. Ele é o espelho de um sentimento que vai ganhando peso na sociedade portuguesa para mudar este estado de coisas. E gosto de muitas das pessoas que propõe o movimento e de muitas das quais o subscreveram. Muitas dessas pessoas sei que são pessoas honestas, com bons princípios e verdadeiramente empenhadas numa mudança de Portugal e da Europa à Esquerda.

 

Não acho pois que devam de nenhum modo ser hostilizadas. Até porque propõe o mais razoável: uma unidade na que consiga “recusar a submissão passiva de Portugal a uma União Europeia transformada em troika permanente”.

 

E se acho que a política se faz em torno do programa este manifesto propõe uma linha política clara no seu texto:

 

««

  1. A prioridade é o respeito pela democracia e pela Constituição, impedindo que os interesses da finança se sobreponham aos direitos dos cidadãos.
  2. Necessidade de pôr travão à austeridade e renegociar a dívida.
  3. Impedir o sufoco de novos resgates e memorandos, com esse ou outro nome.
  4. Devolver dignidade ao trabalho, começando por actualizar o salário mínimo e garantir a negociação colectiva.
  5. Combater as injustiças na distribuição do rendimento e da riqueza, moralizando o sistema fiscal.
  6. Erradicar a pobreza.
  7. Afirmar que a saúde, a educação e as pensões não são mercadorias e que o Estado Social não está à venda.
  8. Preservar o carácter público da água, dos serviços postais e dos transportes colectivos. “
  9. Também convergimos na vontade de impedir que a União Europeia seja um espaço não-democrático, baseado na relação desigual entre ricos e pobres, credores e devedores, mandantes e mandados

»»

Nove pontos razoáveis. Mas que por princípio tipificam essencialmente aquilo em que estamos contra. Estamos contra esta União Europeia, a austeridade, o memorando e os resgates (com  este ou outro nome), a usurpação do sistema democrático pelo sistema financeiro, as desigualdades e injustiças sociais e económicas e a defesa do Estado Social. É por estarmos contra isso que defendemos o oposto: devolver dignidade ao trabalho, afirmar o carácter público dos sectores estratégicos, erradicar a pobreza, proceder a uma renegociação da dívida.

Mas para juntar e para vencer nestas europeias sabemos que não chega. Há pelo menos quatro pontos fundamentais que o movimento 3D e quem nas suas ideias se sente representado deve responder. Dessas respostas depende a sua vitória. E provavelmente a mudança da relação de forças em Portugal.  

  1. Estamos dispostos a assumir que a defesa de Portugal da tirania da finança e a rutura com esta União Europeia pode implicar uma rutura com o Euro para a qual Portugal e outros povos da Europa devem estar preparados?
  2. Recusamos a proposta de federalismo europeu criando uma União Europeia com ainda maior capacidade de definição vida política dos seus estados membros?
  3. Temos uma estratégia de construção de movimento popular à escala nacional e sobretudo europeia que sustente a proposta política de rutura com a dívida e a austeridade?
  4. Concordamos que só é possível implementar uma política deste tipo com uma unidade internacional e internacionalista clara e uma definição apriori de quais são as forças políticas na europa com quem queremos construir uma aliança para derrotar a ditadura do ditat europeu?

 

Se estivermos de acordo nisto, então acho que temos caminho para fazer em conjunto. Na verdade, construir uma maioria ganhadora em torno deste programa seria provavelmente a mudança mais decisiva na luta dos povos e na luta de classes das últimas décadas.

 

Não devemos fechar as portas a essa oportunidade. 

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publicado às 13:52

Manifesto para desunir a esquerda

por Alex Gomes, em 18.12.13

Tendo em conta as últimas iniciativas oriundas dos mais diversos quadrantes da esquerda portuguesa no sentido de unir a dita cuja, considero que isto começa a ser demasiada união para tanta esquerda. Nesse sentido, proponho uma série de questões com o objectivo assumido de voltar a desagregar a esquerda de forma a que ela volte a debater ideias e propostas.

  1. O que fazer à dívida? Rasgar o memorando ou não? Negociar? Caso a negociação não funcione, declarar uma moratória unilateral e preparar o país para sair do Euro? Ficar no Euro custe o que custar? Emite-se uns Euro-Bonds e está feito?
  2. Propor a extinção da NATO? Tirar Portugal da NATO? Apoiar intervenções da NATO em casos de genocídio?
  3. Reformar a UE? Defender o federalismo europeu? A austeridade é necessária, mas assim tanta não que já aleija?
  4. Defender o Rendimento Básico Incondicional, o Direito ao Trabalho para todos e todas ou as duas coisa?
  5. Condenar todas as ditaduras, as ditas de esquerda e as ditas de direita ou abrir honrosas excepões para os amigos?
  6. Nacionalizar os sectores estratégicos da economia ou apenas uma participação forte do Estado, sei lá, umas Golden Shares?
  7. Trabalho sexual é trabalho ou no Socialismo acaba-se a prostituição? As pessoas LGBTQ devem poder adoptar crianças legalmente ou não? Legaliza-se a canábis ou isso é uma cena que aliena a malta da participação na luta? Criminalização do piropo ou direito ao livre piropo?
  8. Respeita-se a autonomia dos Movimentos Sociais ou é algo que só serve para a malta ir lá recrutar e dirigir?
  9. Marca-se mais uma travessia da ponte de autocarro, bicicleta ou triciclo?
  10. Mata-se o Zico com um choque elétrico, uma injecção letal ou um balázio no meio dos olhos? As touradas são um património cultural ou podem-se organizar claques que tenham prazer em ver o Touro a espetar o chifre nos testículos do toureiro?

 

Poderia avançar com outras questões importantes como a  esquerda propor a mudança de côr do facebook ou a criação de um botão de “não gosto”, mas penso que estas 10 temáticas já serão suficientes para manter a esquerda desavinda nos próximos 10 anos, pelo menos. 

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publicado às 12:10




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