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Percebemos que há muita a coisa a mudar na esquerda, quando vemos a Constança Cunha e Sá a desmistificar mitos da unidade à esquerda e a dizer que só um louco de esquerda se sentaria para negociar com António José Seguro, quando vemos Herique Raposo a dizer que o Bloco acabar é mau para a democracia porque o PS fica sem o possível parceiro de negociatas e o João Miguel Tavares e a insurgir-se contra Daniel Oliveira e a sua tese de que é preciso um novo partido depois das europeias que meta medo e asute o PS para este ser obrigado a mudar de política.
Na unidade de esquerda, nem a direita se entende.
1- O grande papão do sectarismo
A propósito da unidade de esquerda, tenho visto várias referências à famosa sequência dos Monty Phyton da “Frente Popular da Judeia” e dos divisionistas. Daniel Oliveira no Expresso online é um dos que a utiliza. É interessante ver que a subtileza da utilização do exemplo dos Phyton, sugerindo as mais das vezes que o sectarismo são os outros (ora o sectarismo são sempre os outros, não é?), não consegue escapar da armadilha da caricatura. Mesmo se feita em nome da unidade, acaba-se a gritar divisionista para o vizinho do lado.
Um dos pontos a analisar antes de lançar uma acusação de sectarismo é se não estaremos a afunilar as nossas propostas de unidade de tal forma que o seu timing, o arco das alianças, a sua modalidade, os seus objetivos ou meios sejam colocados de forma absolutizada: a unidade ou é assim ou não será. Esta é portanto uma das armadilhas em que convém não cair ou corre-se o risco de se acabar a sugerir que todas as outras possibilidades não são “a unidade” a sério, aquela que é precisa, e, assim, acabar a sugerir que aos outros, por mais que digam o contrário, poderá ser colocado o rótulo de sectários, divisionistas ou irresponsáveis que não têm em conta o grave momento que vivemos.
Ora, se a unidade é fundamental há que ter alguma capacidade de integração do ponto de vista alheio ou então condenaremos perpetuamente os Monty Phyton à genialidade. As formas da unidade estão, assim, também elas em debate e a vontade de unidade não é um exclusivo de ninguém. Para começar este processo, que é o contrário de o enterrar ao primeiro contratempo, nada melhor do que a consciência das dificuldades.
Dificuldades sérias. Por isso, não basta o apelo de boa vontade à unidade. Claro que a boa vontade é necessária ao processo e os apelos também. Mas é preciso não cair noutra armadilha que nos conduziria a um beco sem saída: explicar a ausência de unidade por questões de egocentrismo, por acreditar que os outros, sempre eles bolas, não aceitam a via da unidade porque querem manter a sua quinta eleitoral, os seus pequenos privilégios, as suas migalhas do sistema.
Até porque somos todos humanos, dizem, convém não diabolizar uns e santificar outros: aos maus sectários não se contrapõem os bons unitários. Não há os dos interesses e os desinteressados. E se se pode suspeitar que uns fazem o que fazem porque querem manter o tal quintal, não se pode achar estranho que os outros rebatam que o discurso da unidade também poderá servir interesses pequenos como construir um pequeno espaço político próprio ou substituir as direções de um espaço político já existente.
Retóricas e interesses à parte, creio que é preciso afirmar que o problema central da inexistência de políticas de unidade à esquerda são os programas diferentes, os métodos políticos diferentes e os objetivos diferentes. E menorizar as diferenças em nome da angustiante urgência de alterar o rumo político do país não tem contribuído em nada para resolver a questão. É preciso, pois, partir do facto das diferenças vincadas e discuti-las aberta e aprofundadamente. Ter a capacidade de o fazer será dar uma alfinetada no grande papão a ver se o esvaziamos ao contrário de continuar a insuflá-lo de muitas maneiras.
2- Um pequeno papão para assustar o PS
O referido artigo do Daniel Oliveira é interessante porque procura responder a estas questões enquadrando a política unitária dentro de certos limites. Pode-se dizer que apresenta:
- um meio: a unidade é um partido (ou uma força sobretudo eleitoral);
- uma estratégia: a unidade é para conquistar eleitorado do PS assustando a sua direção;
- um objetivo: a unidade conduz a um governo de esquerda. Tenho para mim, precisamente, que cada um destes pontos é tudo menos evidente.
1- O meio “partido” e a intervenção eleitoral não são o único conteúdo possível da unidade de esquerda. Só assim será se acreditarmos exclusivamente na narrativa de que o que falta é uma força eleitoral que assuste o PS. Ora, de outro ponto de vista, pode-se contrapor que a unidade mais urgente é da mobilização e da luta social. Só ela pode contrapor aos poderes perenes do austeritarismo sendo assim uma força suficiente para meter medo não ao PS mas aos verdadeiros donos do país. Aliás, não haveria «governo de esquerda» capaz de aguentar as pressões a que seria sujeito sem essa força social mobilizada em permanência, sem a frente unida social.
2- A estratégia de entrar pelo eleitorado do PS dentro não deve ser absolutizada como a única possível desde um ponto de vista de esquerda. De um outro ponto de vista, a política de esquerda deve também dirigir-se aos «zangados da política», ou seja, todos/as os/as que dela são excluídos. A batalha contra-hegemónica nas camadas da população mais afetadas pela crise e mais sujeitas aos processos de despolitização é central e supõe metodologias, discursos e práticas diferentes.
3- O objetivo final da unidade não tem necessariamente de ser a participação de um partido num governo com o PS. A indisponibilidade do PS para tal ou a sua persistência no social-liberalismo são bastantes para inviabilizar tal projeto. Aliás, mantendo-nos no campo das possibilidades mais «moderadas», poderíamos colocar a hipótese de ser bem mais profícua a existência de uma esquerda parlamentar que se comprometa a viabilizar as propostas anti-austeridade e a contrariar as outras. Isto para não falarmos de tantas outras possibilidades de unidade que não estarão destinadas a limitar-se à política partidária e institucional porque vencer a austeridade não se pode limitar a ser só governar.
Parte da esquerda é influenciada por um fetichismo da governamentalidade como tentativa de contrariar uma suposta aversão juvenil ao poder (ou seja, como forma de contrariar um preconceito conservador). Não me parece que contrapor a vontade de governo a isto seja a melhor das obsessões para quem sabe que precisa de trabalhar muito para inverter a hegemonia do pensamento capitalista. Nem se passa a ser respeitável e credível face a um eleitorado só por se ter como projeto ser governo.
Para além do mais, um governo de esquerda, encontradas que sejam as pontes possíveis, teria de se confrontar com o paradoxo em que vivem as políticas sociais-democratas e de Estado de Bem-Estar nos tempos que correm: um governo minimamente de esquerda nesta correlação de forças é um desafio máximo à arquitetura da UE e do euro, uma afronta máxima à burguesia financeira internacional e aos donos do país que enriquecem com a crise.
Tal projeto de governo teria de responder à cabeça a questões bem espinhosas sobre dívidas, financiamentos, moeda, políticas de fundo, etc. As questões mais fraturantes.
Assim, junto com a conclusão de que um governo deste género seria um governo de combate social e de crise contra a crise, é preciso avançar outra: é impossível uma unidade mínima de esquerda com uma coligação com um partido de natureza social-liberal (será este o meu momento sectário?). E esperar que um partido mude de natureza só porque se espera vir a entrar-lhe pelo eleitorado como se este estivesse preso numa posição política imutável é um projeto mais que discutível e não será o único ponto de ancoragem possível de uma estratégia de unidade.
Um pequeno papão eleitoral, temo, não assustará ninguém e parece impotente para tantas tarefas que temos pela frente. O que assusta a burguesia que temos de vencer é a esperança e a consciência de classe dos/as trabalhadores/as. E o raio da unidade de esquerda que continua a ser urgente.
Sabem o que é o cúmulo do sectarismo? É o Daniel Oliveira e o Rui Tavares encherem a boca a falar em "unidade da Esquerda" e depois nem eles próprios se conseguem entender. Um está a criar um partido, o outro ameaça fazê-lo depois da Europeias... Há assim tantas divergências que os possam separar? Não seria possível os dois - e os sectores em nome dos quais supostamente têm falado - chegarem a um compromisso comum e formarem, em conjunto, um só partido? Sobra a pergunta «à la Scolari»: "E o sectário sou eu?"
Rui Tavares assina hoje no Público um conjunto de maus cenários em que Portugal pode mergulhar em 2015. Identifica três cenários: o cenário mau é o cenário com o PS sem maioria à procura de uma coligação com o PSD ou o CDS; o cenário péssimo é o PSD e o CDS ganharam juntos com maioria; e o cenário medonho é o cenário PSD e CDS juntos mas sem maioria a formarem uma coligação com o PS. São cenários péssimos. Mas não são os únicos cenários péssimos em que podemos cair. Podemos cair no péssimo cenário de o PS ganhar sem maioria e procurar em alguns sectores da esquerda um parceiro de coligação. É cenário bastante improvável, mas é aterrador.
Se parte do espaço político à esquerda do PS decide colcocar-se a jeito para ser parceiro de coligação de um partido liderado por António José Seguro e com o Tratado Orçamental como grande referência programática será uma tragédia. Uma tragédia de enorme alcance: venderá a ilusão ao povo de esquerda que será uma alternativa quando na prática será um governo que aplicará a austeridade do tratado orçamental, que destruirá aos poucos o que resta do Estado Social e que não enfrentará em nenhum momento a Europa da Troika.
E sim, uma aliança desse tipo pode evitar uma aliança do PS com a direita, mas a pergunta que devemos fazer é mesmo essa: tentar evitar um Governo do PS com a direita é suficiente para a esquerda entrar num governo de austeridade? Eu acho que não. Foi este rotativismo instalado que nos trouxe este estado de coisas. Se queremos superar este estado de coisas temos de superar o rotativismo. E temos de juntar milhares de pessoas para isso. É difícil e muito exigente. Mas nestes tempos de catástrofe é exactamente isso que está em causa.
O PT, partido construído apoiando-se em movimentos sociais de base, sindicatos e na rejeição das doutrinas neoliberais presentes nos Governos desde o fim da Ditadura, tem estado no poder no Brasil desde 2003. Primeiro Lula, agora Dilma. Nenhum dos dois produziu nenhuma resposta, nenhma confrontação, com a política essencial do neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso, anterior Presidente. Ideólogos da vinda dos mega-eventos para o Brasil, os dirigentes do PT são hoje responsáveis pelo desalojamento de centenas de milhares de pessoas de bairros que podem ser "incómodos" para os turistas da Copa. Os grandes opositores à política de privatizações de FHC são agora os responsáveis por uma política de privatizações que inclui os maiores aeroportos do país.
Agora, preparando-se para a onda de protestos contra a Copa que começa já amanhã por todo o Brasil, aprovaram o uso das Forças Armadas na repressão das manifestações. Uma esquerda que é tão grande que fica difícil de a diferenciar da pior direita.
Preparem-se, porque 2014 vai ser um ano quente. Para a esquerda que tem fé no PT e também para quem não é de esquerda e ainda tinha dúvidas de que o PT está do seu lado e não do nosso.
Rui Ramos. Não há muito a dizer sobre esta pessoa quando as suas declações falam por si. Rui Ramos presta-se a estas tristes e deploráveis declarações e lembremos-nos: Rui Ramos é investigador principal do ICS e é membro do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanas da FCT. É óbvio que quando pessoas destas têm altas responsabilidades na política científica em Portugal, não há muito a esperar além do que existe: uma cova negra e funda para onde estes saudosistas do passado nos querem atirar.
Ontem demorei mais de duas horas a chegar a casa. Pelo caminho, enquanto esperava que o trânsito desanuviasse, ia tentando perceber o que se passava. Nada. Aparentemente nada. Nas informações de trânsito, nenhuma que pudesse indiciar o motivo de tanta demora. Quando, finalmente, consegui alcançar a ponte 25 de Abril percebi o motivo da demora. Mais um carro abandonado. Mais alguém que decidiu pôr termo à vida. Ontem, ainda, foi notícia o suicídio de um homem de 45 anos, em frente à Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, onde há cerca de dois meses vinha reclamando por um tecto.
Hoje acordo e ouço que o Manuel Alegre quer que os restos mortais do Salgueiro Maia sejam levados para o Panteão. O Vasco Lourenço concorda e diz que essa seria uma boa forma de assinalar os 40 anos da revolução dos cravos.
Eles que se entretenham como quiserem. Eu sei bem qual seria a melhor forma de assinalar a data...
Desde o primeiro dia em que lidei, na faculdade, com militantes da JSD - excepto dois ou três casos - que tive a noção do perigo que representavam para o progresso e o desenvolvimento do país. Trata-se de uma organização, hoje mais até que a JP, que federa uma coligação de jovens absolutamente desligados do quotidiano comum - e isso, em boa parte, tem que ver com a sua origem social - guiados pelo conservadorismo/reacionarismo mais obtuso e pelo oportunismo/carreirismo mais rasteiro que já lidei. Para el@s, como senti na pele várias vezes, vale tudo.
Para os "menos esclarecidos" importa, sobretudo, "safarem-se" na vida - e hoje, institucionalizada que vai sendo a lei da selva para quem procura uma oportunidade de emprego, isso consegue-se com as Jotas (JS e JSD). Nas Jotas a inteligência e o "mérito" são ferramentes discursivas "para fora", porque "lá dentro" é a subserviência e o seguidismo quem dita as regras. Para estes jotinhas que "apenas" se querem "safar na vida", ganhar uma Associação de Estudantes é um sonho, não pelas ideias que defendem ou pelo projecto que pretendem executar, mas porque o ser-se "dirigente associativo" significa estar mais próximo de um lugar na administração pública - numa junta de freguesia, numa câmara ou empresa municipal, etc.- ou na vastíssima rede empresarial que vive colada e/ou que é dependente do Estado.
Bem diferente é a situação do "sector bem pensante" da JSD. Aqui há uma profunda consciência do que se está a fazer. Estão concentrados, grosso modo, nas áreas de Economia, Gestão e Direito, e norteiam-se por um (contra-)revolucionarismo delirante. Combatem, sem pestanejar, todos os exemplos concretos de solidariedade colectiva com que se deparam e todas as aspirações igualitárias que no dia a dia se manifestam. Para el@s, a solidariedade e a igualdade, não são critérios ordenadores nem objectivos a alcançar pelas sociedades, mas apenas um fardo que o século XX nos legou e que urge liquidar.
Num mundo de agentes racionais focados na eficiência suprema, num mundo de empreendedores, de gestores hiperactivos na busca do lucro absoluto, um ser humano que não consegue ser na sociedade mais do que um funcionário público, um trabalhador por conta de outrem, um cientista social ou um desempregado "não tem o direito de reclamar parcela alguma de justiça". Não cria valor e no grande banquete da natureza não há lugar para ele. "A natureza intima-o a sair e não tarda em executar essa intimação". É este raciocínio, uma mistura de liberalismo delirante e de pragmatismo malthusiano, que orienta toda a sua actuação.
No fundo, el@s sabem que a vida em sociedade é uma Luta e têm consciência que a estão a ganhar.
Hoje quiseram mostrar-nos a sua força. Amanhã mostraremos a nossa.
Obrigado ao PSD e aos seus concubinos do CDS, bem como a todos os seus imbecis militantes, por um dos momentos de maior vergonha de que tenho memória neste país.
Não é que com isto se apague tudo o que já fizeram contra esta terra, mas também por isso, esperava maior decoro a lidar com assuntos desta natureza. Já não o têm, o que mostra bem o estado despudorado com que esta súcia lida com a vida dos outros. Culpa deles, mas também do eleitorado e da população que o permite.
Lembrando-me de Saramago, que ele me permita dizer: "Referende-se também a puta que os pariu a todos!"
"PSD impõe voto a favor do referendo à co-adopção por casais gay" E se, em vez de referendarem direitos humanos, se lembrassem de referendar tudo aquilo que prometeram fazer e não fizeram?
De uma direita cujo projeto político já só se limita a ser gestionário e que, nos momentos a sério, decide pôr em causa os direitos das minorias, só podemos esperar cada vez pior. Com a certeza de que, se nada fizermos, só pode ser ainda pior. E lembrei-me deste vídeo do Miguel, tantas vezes válido para tanta coisa.
Hoje um bando da JSD leva ao parlamento uma proposta pra referendar a adopção e a coadopção por parte de casais homossexuais. Apetecia-me chamar-lhes os piores nomes, porque o que a JSD e o PSD com a sua disciplina de voto estão a propor é uma manobra completamente autoritária e antidemocrática.
Em primeiro lugar, mesmo não estando em discussão, a JSD quer amarrar a adopção plena à coadopção. De facto, não há nenhuma proposta de adopção em cima da mesa e a JSD quer misturar tudo por razões estratégias.
Em segundo lugar, a JSD está a tentar bloquear durante anos a conquista da adopção e da coadopção. É que propondo um referendo e legitimando que uma maioria possa vedar os direitos a uma minoria, a direita, se ganhar o referendo, amarra durante anos a sociedade a esta escolha completamente ilegítima.
Depois de ter sido aprovada no parlamento a coadopção, a JSD tentou com este referendo subverter a votação que aconteceu e sobretudo arranjar um mecanismo que amarre a sociedade durante anos sobre este assunto. O referendo é uma estupidez. E há muita gente no PSD que também o sabe. Por isso, a ser aprovado resta-nos todas as alternativas: apelar ao veto do presidente, ir tribunal constitucional, fazer o que for necessário.
Numa altura em que o Governo prepara mais austeridade e cortes estado social com o programa cautelar, a JSD está a tentar uma coisa simples: deixar que uma deriva homofóbica divida a sociedade, afastar o debate e a polémica do roubo que o governo está a fazer e deixar a sociedade presa a um referendo ilegítimo.
É preciso travá-los.
1- Tanto quanto sei, a única meta dos leitões é chegar a ser porco.
2- A política espetáculo austeritária é carnívora e chupa-nos até ao tutano.
3- É urgente resistir à direita que nos quer fazer viver e pensar como porcos.
Portugal é hoje um país que vive numa encruzilhada de tempos. No nosso tempo construímos e conquistámos coletivamente direitos que marcam uma agenda de modernidade civilizacional. Mas foi também no nosso tempo que vimos proliferar um velho conservadorismo bafiento de alguns setores da direita e da sociedade portuguesa que têm efetivado uma verdadeira agenda de atraso civilizacional.
Conquistámos o fim da perseguição das mulheres que recorriam à IVG, mas o Serviço Nacional de Saúde está a ser desmantelado. Conquistámos uma das mais avançadas leis da identidade de género, mas vimos o direito ao casamento por casais homossexuais não ser acompanhado pelo direito à adoção como em qualquer outro casamento. Conquistámos o Ensino Superior Público, mas cada vez menos estudantes têm condições económicas para o frequentar. Conquistámos diversidade de oferta cultural e de públicos, mas deixámos a cultura sem Ministério, sem orçamento e entregue a agendas economicistas. Conquistámos a lei da paridade, mas a violência doméstica e a desigualdade salarial continuam a ter uma marca de género.
Nas grandes disputas da modernidade encontrámos sempre uma barricada com dois lados bem distintos. De um lado encontrámos as forças sociais e políticas progressistas, os setores da esquerda com uma agenda de modernidade e efetivação de direitos. Do outro lado encontrámos sempre o conservadorismo dos setores mais reacionários da direita portuguesa, com um cheiro decadente a atraso e uma estranha nostalgia dos tempos mais podres e miseráveis da nossa história.
É esse o confronto do nosso tempo: um confronto entre quem quer que o futuro seja um regresso ao passado e quem quer que o futuro seja um tempo novo de direitos e liberdades. É esse o confronto que hoje temos pela frente com a JSD e a JP, essas locomotivas de produção de políticos profissionais, de analfabetos políticos que só não são forçados a emigrar porque têm na jota um referencial de emprego para a vida.
A JP aproveitou o Congresso do CDS-PP e o apoio de meia dúzia de secretários de estado do CDS para propor um recuo da escolaridade obrigatória para 9º ano. A JSD, na esperança de mobilizar as velhas ideias conservadoras da sociedade portuguesa, propõe um referendo à adoção e coadoção de crianças por casais homossexuais, achando que os direitos humanos, mesmo que com o apoio maioritário da sociedade, devem poder ser vedados a grupos socialmente discriminados. A JSD e a JP assumem o seu projeto: ter uma sociedade mais desigual, conservadora e autoritária. Uma sociedade onde a maioria deve ter o direito de impedir direitos fundamentais a uma minoria. Uma sociedade com menos qualificação em que o sistema da educação deve ser uma máquina reprodutora das desigualdades sociais.
Vejamos só a título de exemplo a comparação para o ano de 2001 e 2011 dos anos de escolaridade obrigatória numa série de países do mundo:
Figura 1: Anos de escolaridade obrigatória entre 2001 e 2011
Fonte: PNUD
Percebe-se três coisas. Em primeiro lugar, entre 2001 e 2011 ou se mantêm os números de anos de escolaridade obrigatório ou em muitos países aumenta. Em segundo lugar, Portugal está na linha dos países mais avançados na Europa neste domínio, e afasta-se de países de regiões do mundo com menos investimento neste campo. Em terceiro lugar, a Juventude Popular propõe que caminhemos em contraciclo com a maior parte dos países do mundo neste domínio.
A JSD e a JP deitam um cheiro subtil e ainda assim engulhoso a um período negro da nossa história que, em quase meio século de existência, apostou numa sociedade sem escolaridade, altamente desigual e onde a moral e os bons costumes eram os pretextos do conservadorismo mais reacionário.
O que a JSD e a JP propõem é um atraso civilizacional. Puro e duro, sem rodeios. Um cheiro bafiento a tempos dos quais não temos saudade. Um branqueamento mesquinho dos avanços nos direitos e na conquista da igualdade na sociedade portuguesa. A JSD e a JP não estão contentes. Viram uma sociedade que avançou mais do que os cérebros dos seus iluminados dirigentes. Viram que ao contrário das suas ideias mais obscuras, a sociedade portuguesa soube evoluir e lutar. A JSD e a JP estão histéricas. Viram uma sociedade passar-lhes à frente e não ficar presa aos símbolos mais podres que marcaram a nossa história coletiva. Viram que só eles ficaram presos numa nostalgia passadista e rançosa de um tempo cujo povo heroicamente soube ser coveiro.
A JSD e a JP têm de ser derrotadas. A sua derrota é condição de existência de um futuro.