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direita desavinda

por João Mineiro, em 31.01.14

Percebemos que há muita a coisa a mudar na esquerda, quando vemos a Constança Cunha e Sá a desmistificar mitos da unidade à esquerda e a dizer que só um louco de esquerda se sentaria para negociar com António José Seguro, quando vemos Herique Raposo a dizer que o Bloco acabar é mau para a democracia porque o PS fica sem o possível parceiro de negociatas e o João Miguel Tavares e a insurgir-se contra Daniel Oliveira e a sua tese de que é preciso um novo partido depois das europeias que meta medo e asute o PS para este ser obrigado a mudar de política. 

 

Na unidade de esquerda, nem a direita se entende. 

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publicado às 11:05

A dona unidade e os seus dois papões

por carlos carujo, em 29.01.14

1- O grande papão do sectarismo

 

A propósito da unidade de esquerda, tenho visto várias referências à famosa sequência dos Monty Phyton da “Frente Popular da Judeia” e dos divisionistas. Daniel Oliveira no Expresso online é um dos que a utiliza. É interessante ver que a subtileza da utilização do exemplo dos Phyton, sugerindo as mais das vezes que o sectarismo são os outros (ora o sectarismo são sempre os outros, não é?), não consegue escapar da armadilha da caricatura. Mesmo se feita em nome da unidade, acaba-se a gritar divisionista para o vizinho do lado.

Um dos pontos a analisar antes de lançar uma acusação de sectarismo é se não estaremos a afunilar as nossas propostas de unidade de tal forma que o seu timing, o arco das alianças, a sua modalidade, os seus objetivos ou meios sejam colocados de forma absolutizada: a unidade ou é assim ou não será. Esta é portanto uma das armadilhas em que convém não cair ou corre-se o risco de se acabar a sugerir que todas as outras possibilidades não são “a unidade” a sério, aquela que é precisa, e, assim, acabar a sugerir que aos outros, por mais que digam o contrário, poderá ser colocado o rótulo de sectários, divisionistas ou irresponsáveis que não têm em conta o grave momento que vivemos.

Ora, se a unidade é fundamental há que ter alguma capacidade de integração do ponto de vista alheio ou então condenaremos perpetuamente os Monty Phyton à genialidade. As formas da unidade estão, assim, também elas em debate e a vontade de unidade não é um exclusivo de ninguém. Para começar este processo, que é o contrário de o enterrar ao primeiro contratempo, nada melhor do que a consciência das dificuldades.

Dificuldades sérias. Por isso, não basta o apelo de boa vontade à unidade. Claro que a boa vontade é necessária ao processo e os apelos também. Mas é preciso não cair noutra armadilha que nos conduziria a um beco sem saída: explicar a ausência de unidade por questões de egocentrismo, por acreditar que os outros, sempre eles bolas, não aceitam a via da unidade porque querem manter a sua quinta eleitoral, os seus pequenos privilégios, as suas migalhas do sistema.

Até porque somos todos humanos, dizem, convém não diabolizar uns e santificar outros: aos maus sectários não se contrapõem os bons unitários. Não há os dos interesses e os desinteressados. E se se pode suspeitar que uns fazem o que fazem porque querem manter o tal quintal, não se pode achar estranho que os outros rebatam que o discurso da unidade também poderá servir interesses pequenos como construir um pequeno espaço político próprio ou substituir as direções de um espaço político já existente.

Retóricas e interesses à parte, creio que é preciso afirmar que o problema central da inexistência de políticas de unidade à esquerda são os programas diferentes, os métodos políticos diferentes e os objetivos diferentes. E menorizar as diferenças em nome da angustiante urgência de alterar o rumo político do país não tem contribuído em nada para resolver a questão. É preciso, pois, partir do facto das diferenças vincadas e discuti-las aberta e aprofundadamente. Ter a capacidade de o fazer será dar uma alfinetada no grande papão a ver se o esvaziamos ao contrário de continuar a insuflá-lo de muitas maneiras.

 

 

2- Um pequeno papão para assustar o PS

 

 

O referido artigo do Daniel Oliveira é interessante porque procura responder a estas questões enquadrando a política unitária dentro de certos limites. Pode-se dizer que apresenta:

- um meio: a unidade é um partido (ou uma força sobretudo eleitoral);

- uma estratégia: a unidade é para conquistar eleitorado do PS assustando a sua direção;

- um objetivo: a unidade conduz a um governo de esquerda. Tenho para mim, precisamente, que cada um destes pontos é tudo menos evidente.

 

1- O meio “partido” e a intervenção eleitoral não são o único conteúdo possível da unidade de esquerda. Só assim será se acreditarmos exclusivamente na narrativa de que o que falta é uma força eleitoral que assuste o PS. Ora, de outro ponto de vista, pode-se contrapor que a unidade mais urgente é da mobilização e da luta social. Só ela pode contrapor aos poderes perenes do austeritarismo sendo assim uma força suficiente para meter medo não ao PS mas aos verdadeiros donos do país. Aliás, não haveria «governo de esquerda» capaz de aguentar as pressões a que seria sujeito sem essa força social mobilizada em permanência, sem a frente unida social.

 

2- A estratégia de entrar pelo eleitorado do PS dentro não deve ser absolutizada como a única possível desde um ponto de vista de esquerda. De um outro ponto de vista, a política de esquerda deve também dirigir-se aos «zangados da política», ou seja, todos/as os/as que dela são excluídos. A batalha contra-hegemónica nas camadas da população mais afetadas pela crise e mais sujeitas aos processos de despolitização é central e supõe metodologias, discursos e práticas diferentes.

 

3- O objetivo final da unidade não tem necessariamente de ser a participação de um partido num governo com o PS. A indisponibilidade do PS para tal ou a sua persistência no social-liberalismo são bastantes para inviabilizar tal projeto. Aliás, mantendo-nos no campo das possibilidades mais «moderadas», poderíamos colocar a hipótese de ser bem mais profícua a existência de uma esquerda parlamentar que se comprometa a viabilizar as propostas anti-austeridade e a contrariar as outras. Isto para não falarmos de tantas outras possibilidades de unidade que não estarão destinadas a limitar-se à política partidária e institucional porque vencer a austeridade não se pode limitar a ser só governar.

Parte da esquerda é influenciada por um fetichismo da governamentalidade como tentativa de contrariar uma suposta aversão juvenil ao poder (ou seja, como forma de contrariar um preconceito conservador). Não me parece que contrapor a vontade de governo a isto seja a melhor das obsessões para quem sabe que precisa de trabalhar muito para inverter a hegemonia do pensamento capitalista. Nem se passa a ser respeitável e credível face a um eleitorado só por se ter como projeto ser governo.

Para além do mais, um governo de esquerda, encontradas que sejam as pontes possíveis, teria de se confrontar com o paradoxo em que vivem as políticas sociais-democratas e de Estado de Bem-Estar nos tempos que correm: um governo minimamente de esquerda nesta correlação de forças é um desafio máximo à arquitetura da UE e do euro, uma afronta máxima à burguesia financeira internacional e aos donos do país que enriquecem com a crise.

Tal projeto de governo teria de responder à cabeça a questões bem espinhosas sobre dívidas, financiamentos, moeda, políticas de fundo, etc. As questões mais fraturantes.

Assim, junto com a conclusão de que um governo deste género seria um governo de combate social e de crise contra a crise, é preciso avançar outra: é impossível uma unidade mínima de esquerda com uma coligação com um partido de natureza social-liberal (será este o meu momento sectário?). E esperar que um partido mude de natureza só porque se espera vir a entrar-lhe pelo eleitorado como se este estivesse preso numa posição política imutável é um projeto mais que discutível e não será o único ponto de ancoragem possível de uma estratégia de unidade.

Um pequeno papão eleitoral, temo, não assustará ninguém e parece impotente para tantas tarefas que temos pela frente. O que assusta a burguesia que temos de vencer é a esperança e a consciência de classe dos/as trabalhadores/as. E o raio da unidade de esquerda que continua a ser urgente.

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publicado às 22:02

E o sectário sou eu?

por Hugo Ferreira, em 29.01.14

Sabem o que é o cúmulo do sectarismo? É o Daniel Oliveira e o Rui Tavares encherem a boca a falar em "unidade da Esquerda" e depois nem eles próprios se conseguem entender. Um está a criar um partido, o outro ameaça fazê-lo depois da Europeias... Há assim tantas divergências que os possam separar? Não seria possível os dois - e os sectores em nome dos quais supostamente têm falado - chegarem a um compromisso comum e formarem, em conjunto, um só partido? Sobra a pergunta «à la Scolari»: "E o sectário sou eu?"

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publicado às 20:33

O que está em causa

por João Mineiro, em 27.01.14

 

 

Rui Tavares assina hoje no Público um conjunto de maus cenários em que Portugal pode mergulhar em 2015. Identifica três cenários: o cenário mau é o cenário com o PS sem maioria à procura de uma coligação com o PSD ou o CDS; o cenário péssimo é o PSD e o CDS ganharam juntos com maioria; e o cenário medonho é o cenário PSD e CDS juntos mas sem maioria a formarem uma coligação com o PS. São cenários péssimos. Mas não são os únicos cenários péssimos em que podemos cair. Podemos cair no péssimo cenário de o PS ganhar sem maioria e procurar em alguns sectores da esquerda um parceiro de coligação. É cenário bastante improvável, mas é aterrador.

 

Se parte do espaço político à esquerda do PS decide colcocar-se a jeito para ser parceiro de coligação de um partido liderado por António José Seguro e com o Tratado Orçamental como grande referência programática será uma tragédia. Uma tragédia de enorme alcance: venderá a ilusão ao povo de esquerda que será uma alternativa quando na prática será um governo que aplicará a austeridade do tratado orçamental, que destruirá aos poucos o que resta do Estado Social e que não enfrentará em nenhum momento a Europa da Troika.

 

E sim, uma aliança desse tipo pode evitar uma aliança do PS com a direita, mas a pergunta que devemos fazer é mesmo essa: tentar evitar um Governo do PS com a direita é suficiente para a esquerda entrar num governo de austeridade? Eu acho que não. Foi este rotativismo instalado que nos trouxe este estado de coisas. Se queremos superar este estado de coisas temos de superar o rotativismo. E temos de juntar milhares de pessoas para isso. É difícil e muito exigente. Mas nestes tempos de catástrofe é exactamente isso que está em causa. 

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publicado às 14:28

O PT mostra a sua cara

por Rodrigo Rivera, em 24.01.14

 

O PT, partido construído apoiando-se em movimentos sociais de base, sindicatos e na rejeição das doutrinas neoliberais presentes nos Governos desde o fim da Ditadura, tem estado no poder no Brasil desde 2003. Primeiro Lula, agora Dilma. Nenhum dos dois produziu nenhuma resposta, nenhma confrontação, com a política essencial do neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso, anterior Presidente. Ideólogos da vinda dos mega-eventos para o Brasil, os dirigentes do PT são hoje responsáveis pelo desalojamento de centenas de milhares de pessoas de bairros que podem ser "incómodos" para os turistas da Copa. Os grandes opositores à política de privatizações de FHC são agora os responsáveis por uma política de privatizações que inclui os maiores aeroportos do país.

 

Agora, preparando-se para a onda de protestos contra a Copa que começa já amanhã por todo o Brasil, aprovaram o uso das Forças Armadas na repressão das manifestações. Uma esquerda que é tão grande que fica difícil de a diferenciar da pior direita.

 

Preparem-se, porque 2014 vai ser um ano quente. Para a esquerda que tem fé no PT e também para quem não é de esquerda e ainda tinha dúvidas de que o PT está do seu lado e não do nosso.

 

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publicado às 22:46

É gente assim que nos abre a cova

por João Mineiro, em 23.01.14

Rui Ramos. Não há muito a dizer sobre esta pessoa quando as suas declações falam por si. Rui Ramos presta-se a estas tristes e deploráveis declarações e lembremos-nos: Rui Ramos é investigador principal do ICS e é membro do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanas da FCT. É óbvio que quando pessoas destas têm altas responsabilidades na política científica em Portugal, não há muito a esperar além do que existe: uma cova negra e funda para onde estes saudosistas do passado nos querem atirar. 

 

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publicado às 12:14

Podridão e fait divers

por Carlos Guedes, em 22.01.14

Ontem demorei mais de duas horas a chegar a casa. Pelo caminho, enquanto esperava que o trânsito desanuviasse, ia tentando perceber o que se passava. Nada. Aparentemente nada. Nas informações de trânsito, nenhuma que pudesse indiciar o motivo de tanta demora. Quando, finalmente, consegui alcançar a ponte 25 de Abril percebi o motivo da demora. Mais um carro abandonado. Mais alguém que decidiu pôr termo à vida. Ontem, ainda, foi notícia o suicídio de um homem de 45 anos, em frente à Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, onde há cerca de dois meses vinha reclamando por um tecto.
Hoje acordo e ouço que o Manuel Alegre quer que os restos mortais do Salgueiro Maia sejam levados para o Panteão. O Vasco Lourenço concorda e diz que essa seria uma boa forma de assinalar os 40 anos da revolução dos cravos.
Eles que se entretenham como quiserem. Eu sei bem qual seria a melhor forma de assinalar a data...

 

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publicado às 09:37

A Irlanda é a prova de que a austeridade resulta?

por Samuel Cardoso, em 19.01.14
Nas últimas semanas, a Irlanda tem-nos sido apresentada como a prova empírica de que a receita austeritária da troika resulta. Ainda há dois dias, Olli Rehn - vice-presidente da Comissão Europeia e o comissário europeu responsável pelos assuntos económicos e monetários – dizia no Parlamento Europeu que esta funciona “razoavelmente bem”: os “programas de ajustamento” permitem resolver a crise - gerada pela “acumulação de desequilíbrios macroeconómicos”. Exposta a cartilha dominante, por parte de quem tem largas responsabilidades no que se tem passado nestes últimos anos, vamos ao que interessa: o “programa de ajustamento” irlandês foi bem-sucedido?
Antes de mais, convém lembrar que o que está em causa: a troika saiu oficialmente da Irlanda. Na prática, porém, continua a ser “vigiada” pelos “credores oficiais, nomeadamente por parte do FMI”. Indo ao ponto fulcral: a austeridade perdura, e perdurará por bastante tempo.Diz-nos o Expresso que “A consolidação orçamental em 2014 e 2015 vai envolver um ajustamento de 3% do PIB irlandês, ou seja mais 5,1 mil milhões de euros depois de uma consolidação de 13,2 mil milhões (8% do PIB) entre 2011 e 2013. Já para o próximo ano [2014], o ajustamento na Irlanda terá de envolver 2,7 mil milhões (…). O objetivo é registar em 2015 um défice público inferior a 3% do PIB.” O objetivo é garantir a sustentabilidade da dívida pública, ou seja, que o país será capaz de pagar a totalidade da dívida, evitando que os credores possam ser atingidos. Estranho caso de sucesso, este, em que está tudo bem, mas em que a austeridade continua, e continuará, a ser o prato do dia. Há, pois, que definir prioridades, e a Irlanda tem-no feito, nunca pondo em causa os credores: em 2014, a Irlanda terá que pagar 8,4 mil milhões apenas em juros (em 2013 foram 8,1 mil milhões), um valor muito semelhante ao orçamento total da educação (8,7 mil milhões).

 

 

Estando mostrado que a austeridade não terminou, e não parece perto de terminar, importa saber quais os efeitos que esta tem tido na sociedade e na economia irlandesas: como tem evoluído o PIB? E o nível de desemprego? E a dívida pública? Quais as classes que foram mais prejudicadas pela austeridade? Relativamente ao primeiro ponto, o discurso austeritário favorece a tese de que o crescimento do PIB está agora numa fase de crescimento galopante, depois de ter sido feito “o que era preciso”. Ao contrário, o desemprego desce abruptamente, tal como a dívida pública. Relativamente à questão sobre quem seriam as pessoas mais afetadas, o discurso dominante favorece a tese de que os sacrifícios são justamente partilhados por todos e todas.
Antes de ir procurar responder a estas questões, mais ou menos pertinentes, importa contextualizar a situação em que a Irlanda recorreu a programa de “ajuda” externa e em que consistiu exatamente este programa.
A economia irlandesa
gráfico 1 mostra-nos a evolução do saldo orçamental irlandês, para o período 1999-2013. Até 2008, apenas uma vez a Irlanda teve um défice nas contas do Estado: importa relembrar que falamos aqui do saldo final, já depois de considerados os pagamentos de juros e as amortizações da dívida contraída. Onde estão os largos “desequilíbrios macroeconómicos” de que tanto se fala?
Gráfico 1
Certamente do lado da balança comercial, que regista as exportações e importações de bens e serviços, para um dado país. No gráfico 2podemos ver, para o mesmo período que o considerado no gráfico 1, que a balança comercial irlandesa foi positiva para todo o período considerado.
Gráfico 2
Quando se referem aos desequilíbrios macroeconómicos, os defensores da austeridade referem-se obviamente à presença de grandes défices orçamentais e comerciais de um país, ao longo de um período considerável de tempo. A Irlanda verifica o contrário: persistentes saldos positivos de ambas as balanças (orçamental e comercial), sendo que apenas no período do reinado da troika é que a balança orçamental foi afetada.
De forma direta, podemos dizer que os grandes desequilíbrios macroeconómicos que a Irlanda verifica pertencem ao plano do imaginário. São uma mentira imposta para justificar o discurso de que as pessoas andaram a viver acima das suas possibilidades, de que “os salários eram tão altos que toda a gente reconheceu que tinha de haver uma correcção” (quem é o diz é Suzanne Lynch, que fala no papel de correspondente do Irish Times em Bruxelas), justificando então um empobrecimento coletivo, mais que não seja para permitir a purificação das almas.
Importa, no entanto, realçar alguns fatores essenciais que podem advir do que foi aqui dito sobre os saldos orçamental e comercial:
- Não se faz aqui a defesa de saldos largamente positivos por períodos sucessivos de tempo. Os saldos continuamente positivos implicam que outros países observam saldos sucessivamente negativos, o que levá-los-á muito provavelmente a uma situação de subalternização perante o exterior, sob a forma de submissão face aos credores ou sob outra forma distinta de dominação, que historicamente revela ser não sufragada e antidemocrática: a culpa destes desequilíbrios não pode ser vista como estando apenas do lado do país “deficitário”. Por outro lado, não se diz que as trabalhadoras e os trabalhadores dos países com saldos sucessivamente negativos viveram acima das suas possibilidades: há mais destinatários da riqueza produzida, e provavelmente para muitos deles a afirmação já é válida.
Voltando onde parámos, e considerando agora uma outra balança, a corrente. Esta balança já comporta, relativamente à balança comercial, duas balanças adicionais: a de rendimentos e a de transferências. Considerando portanto a balança corrente (aqui medida em percentagem do PIB), como o gráfico 3 representa, a história já é diferente, tendo a Irlanda durante muitos anos verificado saldos negativos. Estes são explicados pela balança de rendimentos, que agrega todas as transações correspondentes a rendimentos decorrentes de ativos que residentes têm no exterior e que estrangeiros têm em território nacional: a Irlanda foi alvo de grandes investimentos por parte do exterior, daí que uma parte enorme do que produz não sirva para seu consumo interno, pois é usada para pagar aos investidores internacionais. Isto leva-nos a pensar até que ponto não é importante o controle dos investimentos estrangeiros ao invés da sua promoção irrefletida.
Gráfico 3
A dívida privada (das empresas e das famílias) atinge, na Irlanda, valores altos em comparação com os restantes países europeus. A título de exemplo, enquanto a dívida privada portuguesa representava, em 2012, 254,6% do PIB, a irlandesa representava 331,8%. Não nos vamos alargar a discutir esta situação aqui mas parece ser claro, tal como em Portugal, que este aumento de dívida privada não foi criado por um extraordinário impulso consumista das pessoas, mas sim pela criação de uma nova realidade comportamental por parte dos bancos e do Estado principalmente nas últimas duas décadas, promovendo o endividamento das empresas e famílias. No que às últimas diz respeito, o destaque vai para a política de habitação: o Estado promove a aquisição de habitação própria, enquanto os bancos competem para conseguir o maior número possível de devedores. Diz-nos o The Economist que “na Irlanda, esta [privada] dívida também é afetada pela presença de multinacionais; ainda assim, a dívida das famílias só por si representa mais de 100% do PIB”. O artigo de Ana Cordeiro Santos para o livro Não acredite em tudo o que pensa ilustra muito bem esta realidade para o caso português. Foi, aliás, este padrão comportamental, com várias particularidades que não serão referidas aqui, que originou a crise americana do subprime, que marca o início da crise desta nova era de depressão económica prolongada. As políticas de austeridade não resolveram o problema da elevada dívida privada: esta estava nos 313,3% em 2010 (o acordo para a “ajuda” externa foi feita em novembro desse ano), passou para 330% em 2011, subindo ainda mais um pouco até aos já referidos 331,8% observados em 2012 (ver dados aqui).
A narrativa de que a crise financeira iniciada em 2008 pôs a nu as debilidades económicas da Irlanda em termos de criação de riqueza é falsa. Pôs a nu as debilidades do seu sector financeiro, nas mãos de privados e não regulado, incapaz de lidar com a crise internacional e que, por outro lado, contribuiu com a conivência estatal para o grande endividamento dos privados que tornou o país mais suscetível a uma crise global. Ao mesmo tempo, a crise mostrou a grande dependência da Irlanda face a proprietários externos, sendo que o retorno dado aos investidores externos implica um pagamento ao exterior que deteriora as contas. Mas não mostrou a sua incapacidade de gerar riqueza, pois essa incapacidade não existe.

 

 

É esta mentira que permitiu que o Estado impusesse medidas de austeridade muitíssimos lesivas às irlandesas e aos irlandeses, de forma a ser capaz de salvar os bancos. Como exemplo, o défice orçamental de 30,6% verificado em 2011 (representado no gráfico 1), um valor incrivelmente elevado, não é explicado pelo pagamento de salários exorbitantes e despesas sociais “supérfluas”, mas sim pelo dinheiro usado para socorrer o sistema financeiro. E nada parece ter mudado no fundamental em termos da visão sobre o papel e a posse dos bancos (nem na maneira como a dívida é contraída, continuando as emissões a ser “asseguradas” por bancos privados), pelo que estão criadas as condições para uma crise equivalente daqui a alguns anos ou décadas. 
O plano de “resgate”
Um estudo feito pela Attac irlandesa em conjunto com a Attac austríaca demonstra de forma clara que, enquanto o empréstimo total dado pelos credores institucionais na sequência do programa de “ajuda” externa foi de 67.500 milhões de euros, o valor gasto com os bancos foi de 89.500 milhões de euros. Todos os credores, mesmo os que não estavam cobertos por garantias do estado (caso dos hedge funds) foram reembolsados, ao passo que o fundo nacional de pensões, que visa garantir o futuro das reformas das irlandesas e dos irlandeses, foi “saqueado”.

Para levar a cabo esta política, vários impostos foram aumentados, dos quais o IVA é um bom exemplo. Das poucas coisas que foram poupadas, destaca-se o IRC, que permaneceu inalterado nos 12,5%. O argumento usado foi o de manter a competitividade fiscal que permitiu à Irlanda receber muito investimento vindo do exterior. Mais que sintomática é a passividade da União Europeia perante esta medida dedumping fiscal, que faz com que haja diversas multinacionais que pagam impostos mais baixos na Irlanda em vez de os pagarem nos sítios onde a produção é levada a cabo.
Mas a maior parte da austeridade foi feita do lado da despesacomo se regozija Miguel Frasquilho quando refere que “o ajustamento irlandês foi, é e será realizado em dois terços no lado da despesa”. Estes cortes na despesa do Estado (na ordem dos 20%, um valor enorme) foram efetuados em extensas áreas essenciais para a vida em sociedade.
Resumindo, o recurso à “ajuda” externa não é explicado por desequilíbrios macroeconómicos, mas pela falha do sistema financeiro. O “programa de ajustamento” serve, portanto, no imediato, para salvar os bancos. Por outro, numa perspetiva mais alargada no tempo, é usado como forma de impor uma mudança estrutural na economia,liberalizando a economia (de que a flexibilização do mercado laboral e a privatização de empresas públicas são bons exemplos) e retirando ao Estado uma parte da sua capacidade para levar a cabo políticas de cariz social (baixando por exemplo o valor do subsídio de desemprego).
Irlanda, um caso de sucesso?
É agora tempo de voltar às questões de partida e ver os efeitos das políticas que foram levadas a cabo.
1) O PIB, tal como refere Krugman, não cresce a um ritmo acelerado mas, pelo contrário, muito lentamente, como podemos ver no gráfico 4, da Comissão Europeia, acima de suspeitas de falta de honestidade “anti-austeritária”.
Gráfico 4
Legitimamente, Krugman diz que “é quase um ato heróico olhar para este gráfico e ver uma história de sucesso, uma justificação para as políticas de austeridade”: o PIB cresce ligeiramente,  mas mantém-se bastante abaixo do que era em 2007 e as previsões não apontam para um bom crescimento nos próximos dois anos.
2) O desemprego, por seu lado, também não tem uma evolução tão “famosa” como seria de esperar, como o gráfico 5 ilustra. Está em queda, mas esta está longe de ser suficiente para compensar a subida exponencial que ocorreu a partir de 2008, ano em que começou nos 4,7%, crescendo aceleradamente até ao pico de fevereiro de 2012: 15,1%. Em dezembro de 2013 situava-se nos 12,4%, bem longe das taxas de desemprego que eram verificadas na Irlanda desde o início da zona Euro (1999), e que até 2008 pareciam quase imutáveis.
Gráfico 5
3) A dívida pública em percentagem do PIB, por seu lado, como ilustra o gráfico 6continua a subir, sendo hoje quase 5 vezes maior do que em 2007.
Gráfico 6
4) A distribuição dos sacrifícios causados pela austeridade tem sido tudo menos igual, e este é o ponto mais importante de toda a análise aqui feita. A parte do produto total da economia que vai para as trabalhadoras e os trabalhadores foi reduzida abruptamente a partir de 2009, tal como se pode ver no gráfico 7, calculado a partir de dados daAmeco, com a metodologia proposta aqui (página 5). E as previsões apontam para que decresça ainda mais nos próximos anos. Há, pois, uma transferência de rendimentos do trabalho para o capital.
Gráfico 7
Paralelamente a esta evolução, 7 mil pessoas saem da Irlanda por mês(convém lembrar que a Irlanda tem menos de 5 milhões de habitantes),de acordo com Lynn Boylan, dirigente do Sinn Féin. O desemprego jovem, na ordem dos 30%, explicará certamente em grande parte esta saída massiva de pessoas, ao nível dos anos 80. A Irlanda é um país em que em vários períodos históricos a emigração tomou valores elevadíssimos, e hoje voltou a esse padrão. Os números do desemprego tornam-se artificialmente baixos face a esta realidade, isto é, não teriam provavelmente a evolução (ligeiramente positiva) que teriam se a saída do país não fosse uma realidade tão massiva.
Por outro lado, não temos dados para verificar com certezas quem são as camadas da sociedade mais afetadas pela redução das despesas sociais, mas sabemo-lo com um grau bastante elevado de certezas: são as camadas mais pobres da sociedade que, pela sua condição, estão mais dependentes de complementos estatais que ajudem a rematar os seus parcos rendimentos.
Portanto, a Irlanda não é um caso de sucesso
- O programa de “ajuda” externa irlandesa serviu por um lado para salvar os bancos e, associado às mentiras sobre a falta de capacidade produtiva irlandesa, a destruir as ajudas sociais e a liberalizar a economia;
- O programa não foi um sucesso: o PIB decresceu muito e demora a subir; o desemprego baixa, mas lentamente e está muito acima do nível inicial - e ainda assim esta evolução é ajudada pela emigração em massa que se verifica, caso contrário a taxa de desemprego seria muito maior; a dívida cresceu imenso;
- Os mais prejudicados pelo programa foram as classes trabalhadoras e as mais pobres. O capital está hoje numa posição estratégica superior àquela em que estava antes.

É essencial desvendar o embuste ideológico sobre a origem dos problemas do país, a forma como estes foram resolvidos e os resultados das soluções levadas a cabo, para que a discussão sobre o caso irlandês seja feita no domínio do real e não do ficcional.

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publicado às 11:55

Um perigo público chamado JSD

por Hugo Ferreira, em 17.01.14

Desde o primeiro dia em que lidei, na faculdade, com militantes da JSD - excepto dois ou três casos - que tive a noção do perigo que representavam para o progresso e o desenvolvimento do país. Trata-se de uma organização, hoje mais até que a JP, que federa uma coligação de jovens absolutamente desligados do quotidiano comum - e isso, em boa parte, tem que ver com a sua origem social - guiados pelo conservadorismo/reacionarismo mais obtuso e pelo oportunismo/carreirismo mais rasteiro que já lidei. Para el@s, como senti na pele várias vezes, vale tudo.

 

Para os "menos esclarecidos" importa, sobretudo, "safarem-se" na vida - e hoje, institucionalizada que vai sendo a lei da selva para quem procura uma oportunidade de emprego, isso consegue-se com as Jotas (JS e JSD). Nas Jotas a inteligência e o "mérito" são ferramentes discursivas "para fora", porque "lá dentro" é a subserviência e o seguidismo quem dita as regras. Para estes jotinhas que "apenas" se querem "safar na vida", ganhar uma Associação de Estudantes é um sonho, não pelas ideias que defendem ou pelo projecto que pretendem executar, mas porque o ser-se "dirigente associativo" significa estar mais próximo de um lugar na administração pública - numa junta de freguesia, numa câmara ou empresa municipal, etc.- ou na vastíssima rede empresarial que vive colada e/ou que é dependente do Estado.

 

Bem diferente é a situação do "sector bem pensante" da JSD. Aqui há uma profunda consciência do que se está a fazer. Estão concentrados, grosso modo, nas áreas de Economia, Gestão e Direito, e norteiam-se por um (contra-)revolucionarismo delirante. Combatem, sem pestanejar, todos os exemplos concretos de solidariedade colectiva com que se deparam e todas as aspirações igualitárias que no dia a dia se manifestam. Para el@s, a solidariedade e a igualdade, não são critérios ordenadores nem objectivos a alcançar pelas sociedades, mas apenas um fardo que o século XX nos legou e que urge liquidar.

 

Num mundo de agentes racionais focados na eficiência suprema, num mundo de empreendedores, de gestores hiperactivos na busca do lucro absoluto, um ser humano que não consegue ser na sociedade mais do que um funcionário público, um trabalhador por conta de outrem, um cientista social ou um desempregado "não tem o direito de reclamar parcela alguma de justiça". Não cria valor e no grande banquete da natureza não há lugar para ele. "A natureza intima-o a sair e não tarda em executar essa intimação". É este raciocínio, uma mistura de liberalismo delirante e de pragmatismo malthusiano, que orienta toda a sua actuação.

 

No fundo, el@s sabem que a vida em sociedade é uma Luta e têm consciência que a estão a ganhar.

 

Hoje quiseram mostrar-nos a sua força. Amanhã mostraremos a nossa.

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publicado às 17:00

 

Obrigado ao PSD e aos seus concubinos do CDS, bem como a todos os seus imbecis militantes, por um dos momentos de maior vergonha de que tenho memória neste país.

 


Não é que com isto se apague tudo o que já fizeram contra esta terra, mas também por isso, esperava maior decoro a lidar com assuntos desta natureza. Já não o têm, o que mostra bem o estado despudorado com que esta súcia lida com a vida dos outros. Culpa deles, mas também do eleitorado e da população que o permite.

Lembrando-me de Saramago, que ele me permita dizer: "Referende-se também a puta que os pariu a todos!"

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 12:50

Todas as sociedades têm os seus palhaços.

por João Mineiro, em 17.01.14
Uma geração que se deixa representar por um Hugo Soares é uma geração que nunca o foi
É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos!
É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!  
Abaixo a geração!  

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publicado às 10:23

Da política podre

por Samuel Cardoso, em 16.01.14

"PSD impõe voto a favor do referendo à co-adopção por casais gay" E se, em vez de referendarem direitos humanos, se lembrassem de referendar tudo aquilo que prometeram fazer e não fizeram?

 

 

De uma direita cujo projeto político já só se limita a ser gestionário e que, nos momentos a sério, decide pôr em causa os direitos das minorias, só podemos esperar cada vez pior. Com a certeza de que, se nada fizermos, só pode ser ainda pior. E lembrei-me deste vídeo do Miguel, tantas vezes válido para tanta coisa.

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publicado às 11:38

Perigos de um referendo ilegítimo

por João Mineiro, em 16.01.14

 

 

Hoje um bando da JSD leva ao parlamento uma proposta pra referendar a adopção e a coadopção por parte de casais homossexuais. Apetecia-me chamar-lhes os piores nomes, porque o que a JSD e o PSD com a sua disciplina de voto estão a propor é uma manobra completamente autoritária e antidemocrática.

Em primeiro lugar, mesmo não estando em discussão, a JSD quer amarrar a adopção plena à coadopção. De facto, não há nenhuma proposta de adopção em cima da mesa e a JSD quer misturar tudo por razões estratégias.

Em segundo lugar, a JSD está a tentar bloquear durante anos a conquista da adopção e da coadopção. É que propondo um referendo e legitimando que uma maioria possa vedar os direitos a uma minoria, a direita, se ganhar o referendo, amarra durante anos a sociedade a esta escolha completamente ilegítima.

Depois de ter sido aprovada no parlamento a coadopção, a JSD tentou com este referendo subverter a votação que aconteceu e sobretudo arranjar um mecanismo que amarre a sociedade durante anos sobre este assunto. O referendo é uma estupidez. E há muita gente no PSD que também o sabe. Por isso, a ser aprovado resta-nos todas as alternativas: apelar ao veto do presidente, ir tribunal constitucional, fazer o que for necessário.

 

Numa altura em que o Governo prepara mais austeridade e cortes estado social com o programa cautelar, a JSD está a tentar uma coisa simples: deixar que uma deriva homofóbica divida a sociedade, afastar o debate e a polémica do roubo que o governo está a fazer e deixar a sociedade presa a um referendo ilegítimo.

 

É preciso travá-los. 

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publicado às 09:44

Notas de um quotidiano político suínizado

por carlos carujo, em 15.01.14

1- Tanto quanto sei, a única meta dos leitões é chegar a ser porco.

2- A política espetáculo austeritária é carnívora e chupa-nos até ao tutano.

3- É urgente resistir à direita que nos quer fazer viver e pensar como porcos.

 

 

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publicado às 18:32

JSD e JP, símbolos de tempos podres

por João Mineiro, em 15.01.14

Portugal é hoje um país que vive numa encruzilhada de tempos. No nosso tempo construímos e conquistámos coletivamente direitos que marcam uma agenda de modernidade civilizacional. Mas foi também no nosso tempo que vimos proliferar um velho conservadorismo bafiento de alguns setores da direita e da sociedade portuguesa que têm efetivado uma verdadeira agenda de atraso civilizacional.

Conquistámos o fim da perseguição das mulheres que recorriam à IVG, mas o Serviço Nacional de Saúde está a ser desmantelado. Conquistámos uma das mais avançadas leis da identidade de género, mas vimos o direito ao casamento por casais homossexuais não ser acompanhado pelo direito à adoção como em qualquer outro casamento. Conquistámos o Ensino Superior Público, mas cada vez menos estudantes têm condições económicas para o frequentar. Conquistámos diversidade de oferta cultural e de públicos, mas deixámos a cultura sem Ministério, sem orçamento e entregue a agendas economicistas. Conquistámos a lei da paridade, mas a violência doméstica e a desigualdade salarial continuam a ter uma marca de género.

Nas grandes disputas da modernidade encontrámos sempre uma barricada com dois lados bem distintos. De um lado encontrámos as forças sociais e políticas progressistas, os setores da esquerda com uma agenda de modernidade e efetivação de direitos. Do outro lado encontrámos sempre o conservadorismo dos setores mais reacionários da direita portuguesa, com um cheiro decadente a atraso e uma estranha nostalgia dos tempos mais podres e miseráveis da nossa história.

É esse o confronto do nosso tempo: um confronto entre quem quer que o futuro seja um regresso ao passado e quem quer que o futuro seja um tempo novo de direitos e liberdades. É esse o confronto que hoje temos pela frente com a JSD e a JP, essas locomotivas de produção de políticos profissionais, de analfabetos políticos que só não são forçados a emigrar porque têm na jota um referencial de emprego para a vida.

A JP aproveitou o Congresso do CDS-PP e o apoio de meia dúzia de secretários de estado do CDS para propor um recuo da escolaridade obrigatória para 9º ano. A JSD, na esperança de mobilizar as velhas ideias conservadoras da sociedade portuguesa, propõe um referendo à adoção e coadoção de crianças por casais homossexuais, achando que os direitos humanos, mesmo que com o apoio maioritário da sociedade, devem poder ser vedados a grupos socialmente discriminados. A JSD e a JP assumem o seu projeto: ter uma sociedade mais desigual, conservadora e autoritária. Uma sociedade onde a maioria deve ter o direito de impedir direitos fundamentais a uma minoria. Uma sociedade com menos qualificação em que o sistema da educação deve ser uma máquina reprodutora das desigualdades sociais.

Vejamos só a título de exemplo a comparação para o ano de 2001 e 2011 dos anos de escolaridade obrigatória numa série de países do mundo:

Figura 1: Anos de escolaridade obrigatória entre 2001 e 2011
Fonte: PNUD

Percebe-se três coisas. Em primeiro lugar, entre 2001 e 2011 ou se mantêm os números de anos de escolaridade obrigatório ou em muitos países aumenta. Em segundo lugar, Portugal está na linha dos países mais avançados na Europa neste domínio, e afasta-se de países de regiões do mundo com menos investimento neste campo. Em terceiro lugar, a Juventude Popular propõe que caminhemos em contraciclo com a maior parte dos países do mundo neste domínio.

A JSD e a JP deitam um cheiro subtil e ainda assim engulhoso a um período negro da nossa história que, em quase meio século de existência, apostou numa sociedade sem escolaridade, altamente desigual e onde a moral e os bons costumes eram os pretextos do conservadorismo mais reacionário.

O que a JSD e a JP propõem é um atraso civilizacional. Puro e duro, sem rodeios. Um cheiro bafiento a tempos dos quais não temos saudade. Um branqueamento mesquinho dos avanços nos direitos e na conquista da igualdade na sociedade portuguesa. A JSD e a JP não estão contentes. Viram uma sociedade que avançou mais do que os cérebros dos seus iluminados dirigentes. Viram que ao contrário das suas ideias mais obscuras, a sociedade portuguesa soube evoluir e lutar. A JSD e a JP estão histéricas. Viram uma sociedade passar-lhes à frente e não ficar presa aos símbolos mais podres que marcaram a nossa história coletiva. Viram que só eles ficaram presos numa nostalgia passadista e rançosa de um tempo cujo povo heroicamente soube ser coveiro.

A JSD e a JP têm de ser derrotadas. A sua derrota é condição de existência de um futuro.

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publicado às 09:45

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