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Está na moda uns arquitetos e designers inventarem abrigos para moradores de rua. E que tal lutar contra as raízes da pobreza e da pior exclusão social que existe, o morar na rua?
Isto é uma caixa de papelão "design". Isto os moradores de rua já usam, sem a publicidade que está a ganhar esta arquiteta com um produto que nem protege do frio, o que - diga-se de passagem - até é o principal problema emergencial de quem mora na rua. Acho muito interessante a ideia de construir casas novas e sustentáveis para moradores de rua, de forma a que possam ter algo "seu". Até se pode projetar novos bairros com novos critérios e lógicas de participação comunitária e vida sustentável. Tudo bem. Mas em relação a estas propostas de "arquitetos" há várias perguntas a serem feitas:
Não faria mais sentido, de uma perspetiva mesmo economicista, mas tambem ecológica, aproveitar o número absurdo de casas vazias nos centros urbanos de todo o planeta para dar habitação a quem precisa? Precisamos mesmo construir mais?
Este projeto já inclui algo que se pode chamar de "casa", mas os moradores "estacionam" a casa e têm de mudar de lugar a cada dois dias. Porque é que essas pessoas só merecem uma "casa de emergência", pequena, móvel? Na prática, continua a reproduzir-se a sua exclusão social mas limpando a consciência de umas quantas "boas almas" que vão dormir com menos peso na consciência, debaixo de um teto. Por serem extremamente pobres, pelos vistos os moradores de rua só merecem soluções rápidas, emergenciais e não planeadas no contexto da cidade.
No caso deste projeto, por ser de mobilidade imposta, nem podem incluir-se na vida comunitária de um bairro, que é um primeiro passo para evitar o regresso a situações de exclusão extrema como é dormir na rua.
Não será outro o papel de arquitetxs e urbanistas? Planear e lutar por outra cidade, onde as casas sejam para as pessoas e não para a especulação e consequente deterioração do meio urbano?