Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



O biopoder de despedir

por carlos carujo, em 14.02.14

O governo decidiu avançar como primeiro critério para despedimento de trabalhadores a «avaliação de desempenho». Ao fazê-lo, faz uma escolha ideológica e programática. Quer aparentar que a avaliação é uma forma objectiva de julgar e de comparar. Mas não é. Alguém conseguirá ainda acreditar nisso? É, aliás, as mais das vezes o contrário: feita de objectivos difusos, a avaliação de desempenho torna-se o reino do amiguismo oculto e da promoção da subserviência reles.

Seja como for, generalizá-la é generalizar a chantagem. Este não é um critério entre outros ou um critério como poderiam ser outros. É o critério mais adequado à mentalidade de quem pensa que preencher grelhas e tabelas assegura uma evidência. É um critério que parece ocultar a sua natureza de poder brutal. É um critério normalizador e formador de subjectividades obedientes, dissuasor da luta por direitos sociais.

É uma forma de biopoder. José Gil, entre outros, procurou há bem pouco tempo os meandros pelos quais se produzem os processos de extração de mais-valia subjetiva: a avaliação é frequentemente uma forma de afirmar que nunca damos o suficiente à empresa, que nos devemos empenhar mais, que devemos moldar a nossa própria personalidade ao que ela dita. E é uma forma de sentir que essa adequação é sempre de menos. A homogeneização é diminuição.

A pseudo-técnica da grelha já era a cenoura para a promoção, agora é o pau para o despedimento. Entrenha-se mais na empresa e em cada um dos trabalhadores. Querem-nos domesticados.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:41

A vergonha do João Miguel

por João Mineiro, em 14.02.14

 

As nossas sociedades produzem os seus próprios bibelôs e os seus próprios cães de loiça. São pessoas que não se percebe de onde vieram, quem é que são e porque é que estão ali especadas. Mas apareceram, fixaram-se e vivem vomitando opiniões em todos os canais de comunicação. Sabe-se, no entanto, que no geral ninguém assume responsabilidade de as ter ali posto. Também ninguém sabe bem porque é que ninguém as tira dali e, no geral, ninguém as aprecia especialmente. Enfim, tudo isto para vos falar de um tal jornalista (segundo consta) João Miguel Tavares.

 

Conheci-o numas crónicas da revista do correio da manhã sobre banalidades do quotidiano, o seu filho, a sua família e mais não sei bem o que. Eram crónicas um bocado patéticas mas ao menos aí não incomodava ninguém e entretinham a malta quando ia à casa de banho. Agora está em todo o lado, tem um programa de comentário político semanal, escreve no Público e vomita opiniões por todo o lado.

 

João Miguel Tavares é um símbolo do nosso tempo. É um símbolo de uma direita rançosa e conservadora que tenta dar um ar moderno mudando as hastes dos óculos. Parecem mais modernos, mais chiques, mais hipesters, mais tudo. Mas são a mesma coisa, cheiram ao mesmo e ganham uma presença no espaço mediático completamente dissonante do que vão fazendo pela vida.

 

Enfim, o João Miguel decidiu dizer que o aborto livre e gratuito é uma vergonha. Diz que as mulheres não podem ir para a prisão mas que isto também não pode ser tudo à balda. Que é preciso um meio termo: as mulheres que querem abortar devem auto-organizar-se para recolherem dinheiro e irem a uma clínica privada. Enfim, isto é uma maneira chique de mandar as mulheres para vãos de escada e para desresponsabilizar o Estado por uma escolha que foi maioritária. Mas a minha proposta é outra, é que nos juntemos, nos auto-organizemos e arranjemos umas massas para dar um subsídio ao João Miguel para não ter que ganhar a vida a vomitar conservadorismo nos média.

 

Continuava a comer e a viver porque nós somos pelo direito à vida. Mas o nosso ar, esse, ficava bem mais respirável. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 11:36




calendário

Fevereiro 2014

D S T Q Q S S
1
2345678
9101112131415
16171819202122
232425262728



Arquivo

  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2014
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2013
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D