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Virar a Esquerda ao Contrário

por Hugo Ferreira, em 14.11.13

Imagem da Gui Castro Felga

(cartaz roubado à Gui Castro Felga)

 

O problema das análises políticas do Daniel Oliveira, em especial quando fala da Esquerda, é que elas revelam sempre, umas vezes expressa outras subliminarmente, um complexo de inferioridade em relação ao PS. Não se nega que o PS continua a ser, ainda hoje, um partido federador de uma parte importante dos sectores sociais progressistas e de Esquerda, nem que, em consequência, o partido continue a ser percepcionado por esses sectores como uma referência política.

 

Mas pergunta-se: a junção, por si só, desses sectores progressistas do campo socialista com os eleitorados comunista e bloquista - convém sempre relembrar, ainda assim, que os eleitorados são variáveis e não pertença universal dos partidos - é hoje suficiente para que possa emergir uma alternativa de Esquerda que rompa com a austeridade e defenda os salários, as pensões, os desempregados, os precários, o Estado Social? Esses sectores coligados são suficientes não só para disputar o poder e, sobretudo, terão eles a força, o suporte social necessário para conseguirem forçar a ruptura com o programa e a agenda fanática e radical da Direita?

 

Nas análises do Daniel Oliveira, como nas análises das direcções político-partidárias que ideologicamente lhe são submissas, há sempre uma variável, na minha opinião a mais relevante de todas, que lhes escapa ou é subvalorizada: o exército de abstencionistas. Nenhuma mudança se fará neste país, e um pouco por toda a Europa, sem a mobilização de parte significativa desses sectores. É neles que reside hoje o grande potencial de crescimento da Esquerda, assim os consigamos politizar, saibamos merecer a sua confiança e tenhamos o engenho e o arrojo de os devolver  ao seu habitat natural: o da disputa política democrática e da governação da sociedade.

 

Mas perceber isto implica que não nos conformemos com a pretensa fatalidade de que tudo continuará como está, independentemente dos estragos que foram, são e continuarão a ser feitos pela Troika e pelo Governo. Isso implica pensar além do sistema político vigente, coisa que o Daniel Oliveira não tem feito com muita frequência. Por isso é que se limita a considerar que o futuro da Esquerda está dependente de truques e manobras operadas pela intelectualidade universitária lisboeta, pelos jovens turcos do PS e pelas lideranças partidárias mais ou menos desesperadas com a sua irrelevância política.

 

O mundo lá fora, apesar de tudo, ainda é mais vasto que a nossa mesa de jantar.

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publicado às 12:04


1 comentário

De Rute Rockabilly a 14.11.2013 às 12:51

No artigo em questão, o Daniel não é capaz de responder à questão que levanta senão com abstracções que nada respondem e mais um piscar de olho à pseudo-inevitabilidade do PS entrar nestas contas...

O PS não é de esquerda, ainda que muita gente de esquerda vote PS.

E o PS não é de esquerda (plo menos não a Esquerda que interessa) porque nos últimos (quase) 40 anos, as suas direcções e programas políticos invariavelmente têm sido de direita! Malgrado alguma retórica de "esquerda" quando está na oposição...

FMI? Chamado plo PS em 1978, 1983 e... também em 2011!
Recibos Verdes? Criados por Mário Soares
Privatizações? governos PS taco-a-taco com governos PSD

É necessário conquistar a base social de apoio do PS para contruir uma alternativa de esquerda? Sim
É possível fazê-lo de braço dado com uma mirífica "ala esquerda" do PS? Não - Alegre o prova!

Teremos nós de "inventar a roda"? Tampouco!

Há 2 partidos de esquerda em Portugal: PCP e Bloco - tudo o mais são seitas inexpressivas como MRPP, POUS, MAS, etc. Logo e muito simplesmente, a alternativa de esquerda a construir neste país tem de passar plo entendimento entre estes 2 agentes políticos.

Relembro que de forma consistente, nos últimos anos, as várias sondagens têm atribuído cerca de 20% à soma dos 2 partidos. Uma frente de Esquerda que os englobasse (ainda que não apagasse as suas diferenças) poderia, de facto,disputar o eleitorado de esquerda ao PS (e também a abstenção) e de caminho constituir-se como uma alternativa credível - isto é e servindo-me da expressão do João Semedo: duma alternativa capaz de ganhar.

Bem sei que cada um (PC e Bloco) gostam de "andar na sua bicicleta", mas honestamente, não vejo alterntiva. É que tudo o mais que leio e escuto são mírificas abstracções como as do artigo citado...

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