De sérgio vitorino a 17.11.2013 às 21:59
Venes, além do óbvio desrespeito por quem faz trabalho sexual, e que apontas, é de assinalar que os perfis masculinos, esses ninguém vai ver se têm pele a mostra ou se insinuam "putedo". Essa verificação é sempre exclusiva para o lado feminino. Mas o pior é mesmo alguém achar que é de esquerda tendo esta conversa sobre as mulheres.
De V. a 19.11.2013 às 15:23
Mas já não se pode ser de esquerda e ser contra o casamento homossexual por exemplo? Não se pode ser de esquerda e ser contra a cultura do corpo, chamem-lhe de estilo putedo ou outro? contra a efeminização do homem, que hoje é quase obrigado a depilar-se e qq dia a maquilhar-se? Aliás, não era contra isto que as feministas lutaram durante décadas? e para isto? para o triunfo do estilo "casa dos segredos"? já reparou que hoje uma menina menos bonita já não pode ser cantora quando as divas da música de antigamente tinham até todas formas mais ou avantajadas?
Ser de esquerda, mais do que ser arco-íris, é ser por uma sociedade onde as ideias valham mais que a imagem bonita ou larocas de um corpo semi-nú.
Já estou como o meu Avô. Quando uma mulher mostra tudo (ou um homem) é porque pouco mais tem para oferecer.
Abr
Ena que confusão vai nessa cabeça. Vai ter de ser por partes. Se se pode ser de esquerda e machista ou homofóbico? Obviamente que não. Assim como não se pode ser de esquerda e racista. Não vejo diferença, e é um contrasenso. A esquerda é humanista.
Se se pode ser de esquerda e contra o casamento homossexual? Claro que sim. Como activista gay, nunca fiz campanha pelo casamento, mas sim pelo direito a (toda a gente poder) decidir e em nome da igualdade de todas as pessoas perante a lei - e da lei face a todas as pessoas independentemente da sua orientação sexual, do seu género, da sua origem nacional, das suas ideias ou crenças, do seu estado de saúde, de qualquer característica imanente a um ser humano, já agora. Pessoalmente, abomino a instituição casamento pelo que representa de historicamente opressivo das mulheres, mas sobretudo pelo que representa o reconhecimento de uns modelos familiares como superiores a outros por parte do Estado (que também abomino). E considero-me de extrema-esquerda.
Diz que os homens quase são obrigados a depilar-se e a maquilhar-se. Está a falar de quem? E quem é que aponta essa pistola à cabeça desses homens? Aquilo a que chama efeminização do homem, lamento mas não é, em si, produto da "cultura do corpo", é simplesmente a visibilidade crescente do facto que sempre foi real de que muitos homens não encaixam no modelo masculino-insensível que lhes foi reservado. Aceite-o ou assuma-se pessoa portadora de homofobia e misogenia. Eu, que sou homossexual, sei o que é ser forçado, mesmo forçado, a passar por machão impoluto, por aquilo que não era, para não ter pistolas de vária ordem apontadas à cabeça, daquelas que destroem vidas e partem ossos. Felizmente, há 20 anos que recusei continuar a esconder-me, mas teve o seu preço. Não m parece q os "homens" (ponho aspas pq na verdade acredito pouco na categoria, dava todo um outro post) tenham passado por qualquer experiência semelhante enquanto "homem". Quem é quase forçado a maquilhar-se e a depilar-se são as mulheres, pelos modelos impostos pela cultura machista e pelas indústrias da cosmética e "da beleza". Mas não, ninguém é obrigado a conformar-se aos modelos que nos dão a comer, seja homem ou seja mulher. As feministas lutaram décadas contra o quê? Quer acusar as feministas de terem contribuído para a cultura do corpo? Elas só lutam pelo reconhecimento das mulheres como pessoas. O q cada pessoa faz com a liberdade relativa que se conquistou não pode ser imputado a um movimento.
Sim, já reparei q artistas "fei@s" (ponho aspas pq isso é sempre muito relativo e subjectivo) têm menos hipóteses de sucesso pela sua qualidade. E é péssimo. No entanto, não é fruto do feminismo. É fruto da dominância persistente de uma cultura machista que conforma a estética - se não a atitude - feminina em função do agradar aos homens, e é fruto d 1 cultura do corpo preconceituosa e discriminatória, gerada em primeiro lugar pela sociedade de consumo capitalista.
Coisa diferente é a liberdade de cada pessoa usar o seu corpo - e a sua sexualidade - como bem entende. Podemos criticar a cultura do corpo, mas não devemos julgar as pessoas em si. Critico a instituição casamento e a homonormatividade, mas não o modelo relacional - que pode ser esse - q cada pessoa escolheu p si. Sobretudo, porque não sei melhor do que os outros o que pode fazê-los felizes, e eu quero que toda a gente seja o mais feliz possível. Também é ser de esquerda. O que não é muito de esquerda é o moralismo. A liberdade sexual - relativa, infelizmente, sob o capitalismo - é uma conquista, e inclui a liberdade de dispor do corpo, da imagem própria, da capacidade e liberdade de auto-sexualização. Se pensar bem, até você se auto-erotiza num momento d sedução ou relação sexual. Todos e todas o fazemos. A putice está na sua cabeça quando julga as pessoas pela aparência ou pela
quantidade de pele exposta. Garanto-lhe, tenho mto, muito p dar. Mas primeiro vou ali expor a minha magreza (não anda mto erótica, que a crise não permite alimentar-me da mesma maneira) com o meu ar de puta fina, mesmo, mesmo só porque pelos vistos ainda há quem utiliza de forma tão negativa termos como putice, promiscuidade e por aí adiante. Deixe as pessoas serem felizes como são. Sente a opressão dos modelos? Bem-vind@ ao clube!