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Economia política em tempos de depressão

por Samuel Cardoso, em 20.10.13

Atravessamos tempos negros. Ao defendermos salários mais dignos, pensões dignas, serviços públicos, há quem faça parecer que estamos a pedir um mundo e o outro. Para nós, parecem-nos coisas elementares para uma sociedade minimamente aceitável. E é pena não sermos suficientes para tornar essas reivindicações realidade (é importante pensarmos como podemos alargar mais o combate a esta política. Mas com a cabeça fria para não cairmos em análises simplistas, para não irmos na análise errónea de “quanto pior, melhor” para a aceitação da oposição, da qual se deduz com grande probabilidade que com uma alteração ou duas da maneira de expor as coisas, e mudando eventualmente uma ou duas caras, se resolvia tudo. Era mais simples, não penso que seja assim a maneira como as coisas são).

Estas coisas básicas que defendemos não são exclusivas de “famílias” socialistas, comunistas ou sociais-democratas. Qualquer verdadeiro democrata cristão devia escandalizar-se quando o pagamento de dívida contraída junto de investidores (que sabem que é um instrumento de especulação) se sobrepõe ao pagamento de salários ou pensões. Todos os verdadeiros democratas cristãos que se queiram juntar ao combate deste governo serão bem-vindos. Talvez conhecendo mais de perto as nossas opiniões sobre assuntos como os direitos LGBT até se aproximem das nossas ideias. Talvez não; mas mesmo que assim seja não podemos abdicar do não-sectarismo como princípio inerente da nossa actuação. Porque mudar de mundo não é só fazer um mundo que vá mais de acordo ao que pensamos. Fazer com que outros com opiniões distintas possam usufruir também desse mundo deve fazer parte desta ideia de construção comum. Por muito que não gostemos de muitas das coisas que essas pessoas pensam.

Mas a ideia de que é necessário construir pontes com toda a gente que esteja dispostas a unir-se à defesa do “básico” não pode de todo colocar em causa que nós não queremos apenas o “básico”. Um exemplo: se por um lado faz sentido juntarmo-nos ao coro de críticos que defendem a subida dos salários por razões tanto sociais como económicas (salários mais altos estimulam a procura interna, criando um efeito positivo na economia; mesmo que nos modelos neo-liberais seja indiferente a quem está distribuído o dinheiro e as “distorções” sejam o que mina tudo. Observar a realidade costuma ser a melhor opção), queremos apenas os e as trabalhadoras a viver um bocadinho melhor?

Ou queremos que os e as trabalhadoras possam realmente decidir como querem organizar a produção e que recolham todos os frutos do seu trabalho? Que as pessoas possam ter a escolha real de trabalhar metade do tempo, ou ainda menos, do que trabalham hoje, para terem mais tempo para passear, namorar, fazer o que lhes apetecer?

Eu acho que queremos muito mais que salários mais altos e algumas garantias de estabilidade. E abdicar de sonhar é capitular.

Nestes tempos negros, penso sinceramente que podíamos pensar mais colectivamente como podemos tornar o sonho realidade. Discutindo as questões difíceis de como passaremos de uma sociedade baseada na posse privadas dos meios de produção para uma sociedade em que estes são geridos e usados colectivamente (pensando num exemplo muito básico e de não muito difícil resolução – a meu ver -, como resolvemos o problema de uma cooperativa ter acesso a um terreno muito fértil e outra ter um muito mau?).

A razão principal para pensarmos colectivamente estas questões não é a iminência de uma mudança brutal, é a necessidade de não esquecermos realmente o que queremos. Nestes tempos de miséria, não nos podemos deixar embrutecer.

(o título é enganador. Não me lembrei de outro melhor e ficou este)

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publicado às 21:29





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