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publicado às 20:52

Nostalgia e militância

por carlos carujo, em 05.06.14

A nostalgia é uma força tramada em política. Já a vi torturar quem passou fome no fascismo ao ponto de acabar por confessá-lo como o melhor tempo da sua vida. Já a vi seduzir o reacionário assumido ao ponto de celebrar a radicalidade do PREC como a sua experiência mais intensa e marcante.

Apesar disto, sei que a normalização do comportamento a partir do fragmento da memória não é simétrica ao potencial transformador da lembrança da prática revolucionária passada. A nostalgia enche facilmente de conservadorismo mas tem tendência a envolver a revolução numa névoa não actualizável: «era tão bonito», «foi um sonho», «são coisas da idade».

Sei que, por trás de tudo isto, é a maravilha da juventude desejada que esconde um tempo em que tudo era simples. Na ilusão de perspetiva, antes era sempre simples e agora é tão complicado.

Conheço também o poder da reescrita hegemónica das memórias, os arredondamentos que limam de forma selvagem todas as arestas que não adaptam à narrativa repetida constantemente.

Sei que começo a entrar na idade perigosa em que a nostalgia é capaz de irromper de repente com todo o seu poder encantatório.

Sei que vivo numa geografia perigosa que muitos quiseram transformar no país da saudade. Não me pretendo desculpar com os males da idade ou do país.

E, contudo, dei comigo a sucumbir-lhe, a pensar num tempo em que a militância era alegria, em que fazíamos política lado a lado e nem pensávamos que fosse possível fazê-la de cima para baixo de tal modo as verticalidades não se encaixavam no que construíamos. Um tempo em que a divergência era a naturalidade da inteligência e da criatividade a dialogar e não o sinal de uma agenda obscura infiltrada ou a ameaça de uma traição em potência. Ali onde a desconfiança não podia ser regra e o sectarismo parecia tão longe. Onde se fazia porque se sentia que se devia fazer sem a razão cínica do calculismo.

Terá existido? Se não, poder-se-á ainda inventar?

Sei dos efeitos perniciosos. Sei que ficar deslumbrado com esse passado é meio caminho andado para a desilusão com o presente e assim ficar paralisado face aos impasses futuros. Sei que, por outro lado, se pode fazer da fraqueza força e que é preciso projetar para o futuro esse saber-fazer (im)possível da militância-revolução. Ou, escrevendo-o ainda mais como um cliché, pode ser que se consiga usar a nostalgia para ter saudades do futuro reinventando o que é urgente.

Ombro a ombro, solidariedade vivida num alter-quotidiano molecularmente resistente à força dos destinos sociais que nos querem impor. Sem se fechar numa conchinha com os que nos parecem ser mais iguais. Irreal por irreal, ao menos que a nostalgia se desalinhave em utopia e seja o nome de uma prática militante permanentemente em ebulição e não de um austero destino final.

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publicado às 22:25

Ni oubli ni pardon

por Mariana Vieira, em 05.06.14

Faz hoje um ano que morreu Clément Méric, assassinado por neo-nazis em Paris. Faz hoje doze dias que o Front National ficou em primeiro lugar nas eleições europeias em França (para não falar no resto).


Eu sei que os meus colegas de blog não vão ficar satisfeitos com a minha estreia tão pouco palavrosa, mas hoje queria mesmo só lembrar isto. Pelo caminho, vou-me lembrando a mim própria de que ser preguiçosa não vale e de que é preciso intervir e perder o medo, mesmo que se comece pelo medo pateta de escrever num blog uma vez por semana.

Até já.

 

 

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publicado às 21:54

 

 

 

 

 

 

Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar (Art.º 65º da Constituição da República Portuguesa)

Esta foi, desde o início, a reivindicação que esteve na base da luta contra as demolições e despejos forçados promovidos desde 2012 no Bairro de Santa Filomena, pela Câmara Municipal da Amadora. A gravidade da situação foi mais que denunciada: cerca de 40% dos e das moradoras de Santa Filomena estão excluídas de um Programa Especial de Realojamento (PER) de 1993, com mais 20 anos e, por isso, completamente obsoleto no seu recenseamento.

A solução menos onerosa para o erário público seria muito simples: suspender as demolições. Cada casa que a CMA destrói envolve a mobilização de recursos públicos - técnicos sociais, fiscais, polícias ou até bulldozers... - que poderiam ser usados de outra forma e com outros objectivos. Mais ainda: cada casa que a CMA destrói é um problema social, humano e económico criado. É que as casas podem ser destruídas, mas as pessoas não deixam de existir, assim como a sua necessidade e, sublinhe-se, o seu direito a ter um tecto digno.

Ora, o contra-senso disto tudo levanta a questão: porque razão a CMA insiste em seguir esta política desumana e irresponsável de urbicídio? Desconhecendo-se planos municipais para aqueles terrenos e sabendo-se que  não são públicos, mas antes geridos por uma das maiores sociedades gestoras de fundos investimento do mercado, inserindo-se num fundo cuja missão visa a criação de "condições de rentabilidade, segurança e liquidez" a questão ganha contornos ainda mais inquietantes, confirmando que, neste mundinho em que vivemos, o lucro vai pesando mais do que as pessoas.

Ainda que com contornos específicos, o caso de Santa Filomena não é o único, antes se insere numa tendência mais generalizada, em múltiplas escalas, de mercantilização do território e, em particular, da habitação. Ou será que caiu no esquecimento o que despoletou da crise financeira de 2008? E será que alguém terá dúvidas sobre quem tirará realmente proveito da liberalização do mercado de arrendamento? E perqgunte-se: como estarão a ser geridas muitas das situações de crédito de mal parado geradas pelo aumento do desemprego e da diminuição de salários e pensões?

A invocação lançada na Igreja Matriz da Amadora, em nome de velhos valores da dignidade humana, não podia ser mais actual e universal: as nossas casas não são os vossos casinos!

publicado originalmente em habita.info

 

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publicado às 11:29

Rios ao Carmo

por carlos carujo, em 24.04.14

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publicado às 00:37

Vítor Bento no país dos fingidores

por carlos carujo, em 25.03.14

O economista brilhante apresenta a sua lógica incontestavelmente científica: o país já era pobre e fingia que era rico. Agora, com a crise, finge que empobreceu. A crise é afinal a história de um estranho país que é um fingidor. E que chega a sentir que é fome a fome que deveras sente.

A este movimento chama Bento "empobrecimento aparente”. E quando explica que "o país empobreceu menos do que parece" a frase soa parecida com aquela outra que dizia que "a vida das pessoas não está melhor mas a vida do país está muito melhor."

Falar neste "país", nesta "economia", neste "crescimento", ora aí está a política do fingimento que se agarra às abstrações pseudo-científicas. A pobreza que não é aparente, que não é fingimento, que é real, que dói mesmo, essa terá de encontrar uma outra linguagem.

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publicado às 19:44

o festim do bloco central

por João Mineiro, em 19.03.14

Mais um ano no ISCTE, mais um Fórum de Políticas Públicas. Mais um Fórum de Políticas Públicas, mais um festim do bloco central. É uma pena uma academia que se devia caracterizar antes de tudo pela diversidade de opiniões contribua para um dos preconceitos mais básicos da sociedade portuguesa: só o PS, o PSD e o CDS estão aptos para governar.

 

Personalidade de outros partidos ou sem filiação partidária nada têm acrescentar no debate sobre as políticas públicas. São também assim estes tempos. Tempos em que o pluralismo de uma democracia intensa ou já desapareceu ou tem andado bem desaparecido. 

 

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publicado às 17:04

Indignidade parlamentar

por Hugo Ferreira, em 14.03.14

 

 

Não vou repetir o que aqui já disse muitas vezes sobre o perigo democrático, na acepção ampla de democracia - social, cívica, económica, cultural e política - que actual maioria de direita representa.

 

Para @ cidadã/o comum, mais ou menos militante, mais ou menos esclarecid@ sobre a questão em apreço, a grande lição a retirar deste processo é, do meu ponto de vista, a seguinte: a golpada parlamentar, a brincadeira aos referendos inconstitucionais - mero instrumento institucional para sonegar preconceitos antigos - compensa. E isso é tão ou mais destrutivo para o sistema democrático, como a indignidade d@s deputad@s que dão o dito pelo não dito, que mudam o seu anterior sentido de voto por pressões da sua direcção partidária ou @s que, pura e simplesmente, pelo mesmo motivo, se ausentam cobardemente desta votação.

 

Mas a crise do sistema democrático é coisa abstracta, de resolução, se o for, de médio e longo prazo. Bem pior, porque concreta e com impacto no dia a dia, é a situação das famílias a quem este projecto-lei se dirigia - aquelas de carne e osso, as realmente existentes, e não aquelas que os livros do Estado Novo preconizavam - que vêem o maioria parlamentar, e por isso o Legislador, impedir, com este chumbo, que uma solução legislativa, ténue e talvez insuficiente, mas uma solução, lhes dignificasse e melhorasse a vida. E isso é imperdoável.

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publicado às 14:46

É preciso pensamento positivo!

por carlos carujo, em 13.03.14

 

 

De manhã à tarde, apresentavam-nos repetidamente casos edificantes de doentes que eram felizes apenas pelo poder do pensamento positivo. Pela noite, especializaram-se nos casos edificantes de pobres que tinham triunfado exclusivamente porque o seu pensamento positivo tinha dado a volta a todos os problemas.

O pensamento positivo tornara-se então omnipresente. Quem não partilhasse desse consenso mole decerto sofreria de algum problema. Deveria pois consultar um dos vários especialistas na matéria. E se não o fizesse mereceria ser condenado a que o mundo lhe caísse em cima por crime de velhodorestelianismo.

Por outro lado, quem o partilhasse mas não tivesse tido os resultados esperados, deveria acreditar com mais força e, se depois disso continuasse a falhar, deveria acreditar ainda com mais força. Se não o conseguisse fazer, claro, encontraria os especialistas prontos a intervir.

O lado negro do pensamento positivo lançava um manto de culpa e difundia um sentimento de que estaríamos errados por nossa culpa. Nunca dávamos ao positivismo tanto quanto ele exigia. No livre mercado do positivismo ficávamos sempre a perder. E seria cada vez mais urgente abraçar a sua normalização brutal e totalitária.

Mas não lhe chamavam ideologia.

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publicado às 18:54

Máximas quase-kantianas sobre um manifesto

por carlos carujo, em 12.03.14

1- Filosofia do conhecimento: "uma reestruturação da dívida sem uma auditoria é cega assim como uma auditoria sem uma reestruturação é vazia".  

 

2- Ética: "assina sempre um manifesto como se o seu conteúdo se pudesse tornar lei universal num governo de esquerda".

 

3- Revolução copernicana: "até agora supôs-se que toda a nossa política tinha de se regular por objetos políticos como a «reestruturação da dívida» ou o «governo de esquerda» porém todas as tentativas de o fazer fracassaram. Por isso, tente-se ver se não progredimos melhor admitindo que os objetos têm de se regular pelo sujeito político, o proletariado."

 

 

Repetir 70 vezes: a condição de possibilidade de uma política de esquerda (e de uma reestruturação da dívida) é o controlo político democrático do proletariado.

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publicado às 14:35

«Tuttodeve cambiare affinchè tutto rimanga come prima.»
Il Gattopardo, Giuseppe di Lampedusa.

 

Parece que se lembraram de restruturar a dívida. O manifesto noticiado na revista Sábado conta com 70 'personalidades' da direita e da esquerda. Enquanto algumas destas pessoas andam há três anos a falar no tema (o programa do BE fala em reestruturação da dívida desde a chegada da troika e Francisco Louça é um dos signatários), muitas não ousariam sugerir tal coisa em 2011. Algo hipócrita mas esperado. 
  
A reestruturação é o mínimo necessário para sair desta situação. Pessoalmente, creio que fechar as portas a uma possível anulação de parte da dívida não tem sentido. A dívida é um instrumento de dominação de credores sobre devedores, pior cuando os mecanismos de controle são quase inexistentes. Este é um tema que me levou inclusivé a discordar do rumo tomado pela "Iniciativa para uma auditoria cidadã à dívida pública" onde a reestruturação foi surgindo cada vez mais como a solução (no primeiro documento aparecia como um dos caminhos possíveis). O debate sobre a pertinencia e a legitimidade da dívida, essencial para encontrar soluções, perde força quando se apontam caminhos únicos a priori. 

Mas o artigo da Sábado tem coisas mais pertinentes que o manifesto em si. Basta ler a  João Cravinho para ver que a repetição de dogmas como o crescimento do PIB e a sua relação com a criação de emprego continuam presentes. Afirma Cravinho que a gestão das finanças públicas tem de ser feita "de modo a criar condições para que haja crescimento e emprego, porque sem isso [Portugal] nunca sairá da crise". Diz ainda Cravinho: "Trata-se de um apelo que se dirige a uma questão absolutamente decisiva para o nosso futuro que é preparar a reestruturação responsável da dívida para crescer sustentadamente com respeito pelas normas constitucionais com responsabilidade social e com democracia".


Não caro João Cravinho. O crescimento do PIB não é necessário para sair da crise. Tampouco é um requisito para criar emprego. Pretender que o crescimento ad infinitum do PIB é possível (e desejado) é pretender ignorar que este é incompatível com os recursos finitos do planeta. É que por muito que queiramos adaptar o mundo a uma visão mecânica (muitos mais simples, sem dúvida), são as leis da termodinâmica que regem a realidade. A entropia é tramada:a  energia disponível transforma-se em desperdício e não há milagre tecnológico que reverta este processo. Podemos, no máximo, tirar mais proveito deste processo. 


Tenho curiosidade em ler o manifesto (a publicar na próxima quarta-feira) só para ver se estas afirmações de Cravinho estão incluídas e são subscritas pelas 70 'personalidades'. Que os signatários e signatárias da direita e do centro-esquerda (em políticas económicas são mesma coisa) subscrevam tais crenças não diz muito sobre o panorama. Se a esquerda assina tais palavras, então é melhor que não esperemos nada de novo nos próximos tempos. Vamos andar de crise em crise, com períodos intermitentes de "capitalismo responsável", caminhando para o insustentável. 

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publicado às 23:16

Parece que hoje é dia 11 de Março.

por João Mineiro, em 11.03.14

"O problema aqui disto tudo é que fomos todos enganados por um gajo qualquer pá, que é reaccionário. Agora é preciso descobrir é quem é esse gajo. É urgente descobrir quem é esse gajo reaccionário"


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publicado às 14:47

Paulo e o relógio esquecido

por carlos carujo, em 08.03.14

Já velhinho, Paulo entrou naquela sala há tanto esquecida. Lá bem no centro, apenas estava o relógio antigo que marcava a contagem regressiva para o glorioso dia da independência nacional. A espera compensara finalmente. Só era pena que agora... Paulo travou de imediato aquele pensamento duvidoso. Não era tempo disso mas de celebrar a vitória!

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publicado às 17:22

Equivalências

por carlos carujo, em 07.03.14

Apesar do pontapé do assessor do PSD a um jornalista não ter tido equivalência a um espancamento, a manifestação dos polícias parece que teve equivalência a uma revolução. A matemática política Relvas impõe-se no vazio de pensamento.

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publicado às 16:04

Tudo começou com estes olhos espalhados por tudo o que era carruagem do metro e autocarro da carris. Durante vários dias toda a gente comentava a estranheza da imagem. Mas enfim, hoje há marketing para todos os gostos. Não se devia ter desvalorizado. Estes olhos estavam mesmos a observar-nos e passados uns dias, a administração do Metro e da Carris decidiram desvendar a curiosidade: 

 

 

 

Afinal a Carris e o Metro queriam dizer-nos para cada um de nós ser um vigilante do vizinho do lado. De facto, é cada vez mais comum que os responsáveis dos transportes de Lisboa fechem os olhos quando veêm as pessoas a passar sem passe. Eles sabem que para muita gente que vive em situações ultraprecárias, essa é a única forma de terem direito à mobilidade na cidade.

 

Mas a Carris e o Metro foram longe de mais. Mereceriam, no mínimo, que todos os cartazes fossem vandalizados. A sociedade não tem de ser um antro de bufos que controlam os pobres e que assistem apáticos à degradação dos transportes públicos e do direito à mobilidade. 

 

Se pensam que assim é, estão mesmo enganados. As pessoas vão mandar o big brother à merda. Afinal de contas, ainda há dignidade neste país. 

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publicado às 11:48




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