Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
De manhã à tarde, apresentavam-nos repetidamente casos edificantes de doentes que eram felizes apenas pelo poder do pensamento positivo. Pela noite, especializaram-se nos casos edificantes de pobres que tinham triunfado exclusivamente porque o seu pensamento positivo tinha dado a volta a todos os problemas.
O pensamento positivo tornara-se então omnipresente. Quem não partilhasse desse consenso mole decerto sofreria de algum problema. Deveria pois consultar um dos vários especialistas na matéria. E se não o fizesse mereceria ser condenado a que o mundo lhe caísse em cima por crime de velhodorestelianismo.
Por outro lado, quem o partilhasse mas não tivesse tido os resultados esperados, deveria acreditar com mais força e, se depois disso continuasse a falhar, deveria acreditar ainda com mais força. Se não o conseguisse fazer, claro, encontraria os especialistas prontos a intervir.
O lado negro do pensamento positivo lançava um manto de culpa e difundia um sentimento de que estaríamos errados por nossa culpa. Nunca dávamos ao positivismo tanto quanto ele exigia. No livre mercado do positivismo ficávamos sempre a perder. E seria cada vez mais urgente abraçar a sua normalização brutal e totalitária.
Mas não lhe chamavam ideologia.