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O biopoder de despedir

por carlos carujo, em 14.02.14

O governo decidiu avançar como primeiro critério para despedimento de trabalhadores a «avaliação de desempenho». Ao fazê-lo, faz uma escolha ideológica e programática. Quer aparentar que a avaliação é uma forma objectiva de julgar e de comparar. Mas não é. Alguém conseguirá ainda acreditar nisso? É, aliás, as mais das vezes o contrário: feita de objectivos difusos, a avaliação de desempenho torna-se o reino do amiguismo oculto e da promoção da subserviência reles.

Seja como for, generalizá-la é generalizar a chantagem. Este não é um critério entre outros ou um critério como poderiam ser outros. É o critério mais adequado à mentalidade de quem pensa que preencher grelhas e tabelas assegura uma evidência. É um critério que parece ocultar a sua natureza de poder brutal. É um critério normalizador e formador de subjectividades obedientes, dissuasor da luta por direitos sociais.

É uma forma de biopoder. José Gil, entre outros, procurou há bem pouco tempo os meandros pelos quais se produzem os processos de extração de mais-valia subjetiva: a avaliação é frequentemente uma forma de afirmar que nunca damos o suficiente à empresa, que nos devemos empenhar mais, que devemos moldar a nossa própria personalidade ao que ela dita. E é uma forma de sentir que essa adequação é sempre de menos. A homogeneização é diminuição.

A pseudo-técnica da grelha já era a cenoura para a promoção, agora é o pau para o despedimento. Entrenha-se mais na empresa e em cada um dos trabalhadores. Querem-nos domesticados.

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publicado às 16:41


3 comentários

De macacoi a 21.02.2014 às 00:15

...domesticados já estamos. Até somos elogiados pelos nossos algozes como bem comportados.
Não há movimentação social.
Nas próximas eleições ganharão os mesmos ou os »outros» os tais do arco...
Não, isto não é uma democracia. Suponho que o liberalismo não se estabelece nunca num sistema desse tipo. Parece-me mais uma ditadura moderna onde em vez de partido único há bipartidarismo... «do arco». Mas sobretudo onde o que não há é política, não há ideias. A tal ponto que o cargo de político começa a parecer desnecessário para os governos modernos: para o que eles fazem basta um contabilista e um cenário com adereços.
Domesticados já somos... e isso vê-se.

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