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Santa aliança para juventude ver

por João Mineiro, em 24.06.14

 

 

 

Ontem multiplicaram-se notícias sobre a grande solução europeia para o desemprego jovem: a Aliança para a Juventude. É certo que a Europa é um continente dizimado pela austeridade e pela chantagem da dívida que fizeram regredir a economia, as funções sociais do Estado e que conduziram a um alastramento da pobreza e do desemprego. Mas para a Europa tudo estava bem com essa estratégia até que Durão Barroso quis sair com alguma dignidade da podridão em que deixou a Europa e já de saída nomeou o desemprego jovem como o grande problema europeu.

A Comissão Europeia, firmemente consciente deste problema civilizacional e depois de se munir de poderosos instrumentos técnicos, encontrou a solução para o problema: criar estágios temporários em grandes multinacionais. Um jovem candidata-se a um conjunto de estágios que vão abrir, na prodigiosa esperança de poder ficar na empresa. Não importa que as economias sejam dizimadas e que a classe média encolha a olhos vistos. Não importa que o emprego qualificado não exista. Para estes senhores, desde que se tenha um estágio, e depois outro, e depois outro, e depois ainda outro, mais cedo ou tarde, deixaremos de ser descartáveis e poderemos ter uma vida digna.

Esta “Aliança para a Juventude” é uma boa solução para a cabeça de génios europeus como o Bruno Maçães, que cá em Portugal voou das aulas do João Carlos Espada na Católica para Secretário de Estado dos Assuntos Europeus. Em Portugal, ao que se sabe, o programa pretende até 2017 criar 8 mil estágios através da Nestlé. É um número curioso. Abrange mais ou menos 1 em cada 60 jovens entre os 15 e os 34 anos que só hoje em Portugal não estudam nem trabalham. 

Enquanto a economia vai sendo destruída, os estágios vão substituindo as necessidades de trabalho permanente. Os estágios da Aliança para Juventude, pomposamente apresentada numa sessão pública por Passos Coelho, Paulo Portas, Mota Soares e Durão Barroso, dão para a imprensa fazer umas notícias baseadas na ilusão de aquele 1 em cada 18 jovens desempregados em Portugal que vai poder ter um estágio deste programa, vai depois ficar estável numa empresa cujo trabalho corresponda à sua formação e interesse.

Enfim, há programas assim. São criados para fazer notícias. E para fingir que a Europa ainda está de boa saúde, quando cheira a podre por todos os lados. 

 

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publicado às 11:41

O biopoder de despedir

por carlos carujo, em 14.02.14

O governo decidiu avançar como primeiro critério para despedimento de trabalhadores a «avaliação de desempenho». Ao fazê-lo, faz uma escolha ideológica e programática. Quer aparentar que a avaliação é uma forma objectiva de julgar e de comparar. Mas não é. Alguém conseguirá ainda acreditar nisso? É, aliás, as mais das vezes o contrário: feita de objectivos difusos, a avaliação de desempenho torna-se o reino do amiguismo oculto e da promoção da subserviência reles.

Seja como for, generalizá-la é generalizar a chantagem. Este não é um critério entre outros ou um critério como poderiam ser outros. É o critério mais adequado à mentalidade de quem pensa que preencher grelhas e tabelas assegura uma evidência. É um critério que parece ocultar a sua natureza de poder brutal. É um critério normalizador e formador de subjectividades obedientes, dissuasor da luta por direitos sociais.

É uma forma de biopoder. José Gil, entre outros, procurou há bem pouco tempo os meandros pelos quais se produzem os processos de extração de mais-valia subjetiva: a avaliação é frequentemente uma forma de afirmar que nunca damos o suficiente à empresa, que nos devemos empenhar mais, que devemos moldar a nossa própria personalidade ao que ela dita. E é uma forma de sentir que essa adequação é sempre de menos. A homogeneização é diminuição.

A pseudo-técnica da grelha já era a cenoura para a promoção, agora é o pau para o despedimento. Entrenha-se mais na empresa e em cada um dos trabalhadores. Querem-nos domesticados.

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publicado às 16:41




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