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"Dura parvoícis, sed parvoícis"

por danidapenha, em 04.02.14
Reparo que por aqui ainda não se escreveu sobre praxe. Talvez algum acordo tácito entre os escribas, que preferem escrever (e com razão) sobre coisas sérias em vez de gastar tempo sobre brincadeiras de putos. O problema, aqui, é a dimensão que esta brincadeira de putos atingiu, principalmente num país que tanta importância dá ao canudo. Ora, dada essa importância, será destes putos que sairão os próximos jotinhas e, consequentemente, os próximos Secretários de Estado, Ministros e Primeiros-Ministros.

 

Mais ainda, no meio destes putos, há milhares de jovens adultos com mínimos de integridade, humanismo e respeito por si e pelo próximo que são vergados todos os anos perante esta podridão. Daí que, e depois de ter visto por aí o vídeo abaixo a circular, um impulso me levou a escrevinhar umas coisas, até para, para mim, poder dar o assunto como fechado.

 

E visto isto, a que se soma o "direito a ser humilhado" e as conversetas todas do papel da praxe na integração, mantenho a opinião, apenas com mais força: Triste país que tem uma Universidade que permite isto dentro das suas portas.

 

Parece-me impossível, se não absurdo, falar em proibição de praxes, por uma série de razões, nomeadamente a dificuldade em definir limites e critérios para tal lei:

  

a) Seria o ajuntamento? Qualquer grupo de universitários na rua seria praxe? E se um dia (não custa sonhar) os estudantes do superior resolvessem voltar a sair à rua para exigir o mínimo que é exigível para o ensino em Portugal, seria esse ajuntamento considerado praxe?

 

b) O comportamento? Um bando de bêbados aos gritos na rua é praxe? Se, e tantos usam por aí o argumento, coisas como as Festas de Queima das Fitas e afins são parte da praxe, seriam então estas proibidas?

 

c) Seria o traje, a roupa? Qualquer ajuntamento de malta com capa seria proibida? E se Lisboa, na sua ânsia de promover o turismo, conseguisse receber um Congresso Mundial de fãs do Batman? Teria de ser aberto um regime de excepção na lei de proibição das praxes?

 

O passo a dar é, parece-me, "anormalizar" a praxe. E antes de mais, correr com ela de qualquer espaço universitário. Se um qualquer grupo de jovens tem extremas dificuldades em lhes ver cedida para simples reuniões de trabalho uma sala numa qualquer faculdade, como se concebe e aceita o que se vê neste vídeo? E os reitores e presidentes dos conselhos directivos e pedagógicos e outros órgãos de nome pomposo, sempre com a boca bem cheia dos valores da Academia e da elevação desta, admitem e dormem descansados com isto a acontecer nas suas barbas?

 

Claro que fora das universidades continuaria a haver praxe. E a solução também não me parece complicada e reside tão só naquilo a que chamamos Estado de Direito. Qualquer abuso perante a integridade moral e física de uma pessoa não deve ser reportado a uma Comissão de Praxe e remeter para um Código de Praxe. Deve ser reportado à polícia e remeter para o Código Civil ou Penal. E só com a repetição e perda de medo de denunciar e punir, se vai conseguir voltar a colocar o mundo nos eixos. E talvez consigamos voltar a viver num mundo onde quem defende igualdade entre todos e respeito pela condição do outro não é vaiado ou olhado de lado, enquanto os desprovidos de qualquer noção de humanidade se passeiam de colher de pau gigante na mão, enquanto fazem tempo até serem nomeados para uma qualquer Secretaria de Estado..

 

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publicado às 10:28




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